A professora aceita o desafio. O
sorriso de superioridade de Sofia a fez agir como uma adolescente que se sente
tentada a reagir à altura.
Os alunos ficam espantados, e os
meninos, mais do que isso, ficam revoltados com a atitude de Sofia.
Karen
Mas existe uma razão: Karen, a
mais bela mulher de todo o mundo, foi uma modelo famosa internacionalmente que
largou a profissão para seguir aquilo que ela, e apenas ela, acredita ser sua
vocação: professora de história!
Os meninos e até as meninas param
para vê-la entrar. Reza a lenda que até os cães, gatos, pássaros e iguanas
param para admira-la.
Verdade seja dita, além de
estonteante, ela é muito esforçada e gosta de fato do que faz. Vivem dizendo
que ela não nascera para isso, mas ela dá de ombros com a frase favorita de seu
avô na cabeça “E para que nascemos então, senão para a morte?”
Karen dá aulas cinco dias por
semana, tira os sábados para corrigir provas e trabalhos, e os domingos de
folga. Teve apenas um namorado na vida que a chateou o suficiente para que passasse
a detestar relacionamentos desta natureza. Os pais a amavam enquanto era modelo
e ganhava em dólares, e agora que é uma professora do ensino público estadual é
considerada uma aberração, uma doida.
Sua mãe vive a espalhar para suas
amizades da alta sociedade que sua filha não suportou a vida de modelo e caiu
em depressão. O pai se cala diante da presença da esposa, porém nas costas dela
confessa aos amigos que sua filha é seu orgulho, que qualquer pessoa capaz de
seguir seus próprios pés, seus sonhos, merece mais valor do que as outras.
O Olhar
Aquele olhar desafiador e
arrogante de Sofia fez Karen lembrar-se de como sua mãe a tratava quando
adolescente: linda e cabeça oca. As piadinhas infernais sobre a sua inteligência,
ou falta dela, a maltratava dia após dia, muitas vezes, quando colocada diante
de uma situação em que tivesse que usar uma lógica um pouco mais complexa,
entrava em pânico e se derramava em lágrimas.
_ Eu não sei mãe... eu não sei...
Quantas noites acordou repetindo
estes mesmos versos malignos.
Luigi, seu avô, ia sempre até sua
cama para acalma-la. A mãe se aproximava da porta e perguntava:
_ Sonhou que estava tentando fazer uma prova de
matemática?
_ Suma daqui!! Sua
aproveitadora!!
Karen descobriu, ouvindo pelas
paredes, que seus pais apenas se casaram porque sua mãe engravidou de propósito
ao saber que ele estava prestes a romper com ela.
_ Se não fosse por mim não teria
nascido!
_ Não pedi para nascer e muito menos
para ser usada como algemas!
_ Parem vocês duas! _ Luigi
encerra mais uma discussão.
O sofrimento dos acanhados e o desafio
Na quinta-feira seguinte, já na
escola, Sofia vê Alan.
_ Não quero ouvir seu sonho de
novo! Eu imagino o quanto está empolgada para contar esta novidade que se repete
pela oitava, mas por favor, poupe meus ouvidos.
_ Eu não sonhei hoje.
_ Todo mundo sonha garota!
_ Quero dizer que não dormi,
logo, não sonhei, garoto. Fiquei estudando para ensinar o conteúdo, fazendo o
questionário do desafio contra a modelo, e, tenho uma carta guardada na manga.
_ Qual?
_ Um ás de espadas.
_ Para quê?
_ Quero dizer que é uma surpresa
Alan, como você é lento _ normalmente após chamá-lo de lento ela dá um tapa na
nuca dele.
Karen chama Sofia para
organizarem o sorteio, mas Sofia diz que já tem os nomes nos papeis picados.
_ Como será então?
_ Eu sorteio um nome e faço a
primeira pergunta, depois a professora sorteia outro nome e faz a pergunta
dela, até que os papeis contidos nesta caixinha acabem. Ganha quem tiver mais
perguntas acertadas
_ Mas Sofia, tem trinta perguntas
e nós somos vinte e oito, por quê?
_Hmm... duas perguntas extras em
caso de empate.
Após estas palavras Sofia entrega
uma folha com o resumo do conteúdo que vai ensinar e começa a explicar para os
alunos a evolução do sistema político e econômico do país.
Contudo, não foi tão simples
assim. Nos primeiros momentos ela tremia, gaguejava e usava gírias
constantemente, além de incorporar um verdadeiro falador de libras, com uma
diferença, seus movimentos manuais e braçais eram repetidos e desconexos. Seus
olhos não sabiam para que lado olhar e suas axilas cheiravam tão bem quanto gorgonzola.
Uma experiência horrível para os
tímidos e inexperientes.
Devia ser crime ser obrigado a
falar em público.
Porém Sofia não podia se queixar,
foi ela quem fez o desafio, tinha que ir até o final. Como acabou acontecendo,
de forma sofrível, mas os alunos pareceram ter entendido aquilo que ela, seus
braços e desenhos tremidos na lousa explicaram.
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