Diálogos ateus I



Dois amigos, um ateu e outro católico estão a conversar sobre religião, até que o católico se revolta sem mais nem menos e dispara contra o amigo:

_ Vocês ateus acham que são os donos da razão!

O amigo olha espantado a mudança de tom do amigo, para por um momento para pensar e responde:

"Esqueça em que acreditamos por alguns momentos. Esqueça de onde viemos, qual nossa nacionalidade, qual bairro moramos ou língua falamos. Imagine eu, você e todos, como simplesmente criaturas que habitam este planeta, como as plantas, os reptéis, peixes, rochas e todos resto.

Imagine que a filosofia não é um conhecimento que dominamos, que não existem governos, pobres nem ricos. Pense em nós como seres tribais que vivem exclusivamente para consumir da natureza, o que necessitamos. E quando digo necessidade, falo de elementos ligados diretamente à nossa sobrevivência: água, comida, proteção contra os inimigos naturais e das mudanças climáticas e outros.

Pensa que a única coisa que importa é a sobrevivência destas tribos através do respeito mutuo. Uma não invade a outra, e quando precisam de algo, eles trocam.

Desse cenário eu tirei a ideologia, a crença, o consumismo, o Estado e a divisão por classes. Coisas que acredito que nos afastam da pureza de nossa raça: a humana. Não há divisões, há apenas a união pela sobrevivência das tribos, de todas elas.

Belo cenário não acha?"

_ Mas, mas...

"Agora vou pensar outra coisa. Nós não sabemos exatamente como o primeiro ser humano surgiu, mas pelos estudos temos ideia. O ser humano faz parte da árvore da evolução de acordo com os estudos. Descobrimos outras coisas como a gravidade, as leis da termodinâmica, a eletricidade, claro, não poderia deixar para trás, a roda e o fogo.

Pensamos, mexemos, experimentamos e vimos de tudo. Mas não me lembro de termos visto, medido, ouvido qualquer tipo de manifestação de coisas supernaturais. Pode acontecer de certas coisas ainda não terem explicação.

Eu posso ter um prego para ser martelado, mas eu não inventei o martelo para fazê-lo. E agora? Me conformo ou vou atrás da solução, do conhecimento?

Eu penso que a vida não tem um sentido, somos nós através das nossas experiências e pensamentos que damos um sentido para elas.

Sentido também não há, em nos agarrarmos a superexplicações da vida que não tem nenhum tipo de evidência."

_ Tem gente que acredita no big bang.

"Se estudasse mais entenderia que ele faz mais sentido do que muitas coisas em que acredita. A ignorância não vai te proteger para sempre.

Enfim... uma pergunta, você acredita no papai noel?"

_ Não, oras!

"Por que?"

_ Porque ele não existe. Inventamos ele para as crianças.

"Digamos que ninguém conte para uma criança que o papai noel de fato não existe. Acha que ela iria acreditar nisso para sempre?"

_ Não. Ela cresceria e veria adultos se vestindo na época no natal, fanstasias a venda nas lojas, pessoas comentando. Ela ia deixar de acreditar então.

"Normalmente são nossos pais que nos colocam na igreja e contam sobre a existência de uma divindade. Nós crescemos e nunca, nunca temos contato com ela. Tudo que temos são rumores, livros de histórias mal contadas e codificadas e uma comunidade cientifíca que descobre mais coisas todos os dias. Sem contar que você precisa de uma instituição _ muitas delas ricas _ e de, guias, por assim dizer, para supostamente chegar até uma suposta salvação.

Eu não entendo. Pessoas com um pouco de estudo tem razões o suficiente para não acreditar em Odin, Zeus, Javé, Mithra, Rá, Alá e mesmo assim acreditam. O que me leva a pergunta: quando o assunto é deus, os adultos pensam como crianças?"

_ Tá vendo, tá vendo, tá se achando o dono da razão de novo!

"Não é isso. Eu sou ateu, eu não acredito porque não há razões suficientes para crer. Eu não vou crer em um deus só porque um presidente disse que deus apareceu para ele, e disse para ele atacar o Iraque, ou porque supostamente apareceu para um papa e disse para ele ordernar o povo a tomar Jerusálem. Ou porque eu tive um sonho com alguém me falando algo que aconteceu depois, ou porque eu me salvei de uma tragédia, e muito menos porque alguém me disse que eu tinha que crer e pronto. Ou pior, acreditar porque não acreditar não pareça fazer sentido.

O método cientifíco nos trouxe até aqui, mas a religião ou nos atrasa ou nos separa em camadas. Ela é a primeira a se escandalizar com as constantes e normais transformações da sociedade. Aonde ela põe o dedo, dez anos voltam.

Ora, eu uso minha cabeça! Sou um terráqueo comum, vivo uma vida comum, super histórias precisam de superexplicações e ninguém de fato as têm!

Se me diz que algo existe, presumo que deva me demonstrar e demonstrar a todos. Se seu deus existe e não gosta de manifestações públicas, azar o dele, não merece minha atenção e nem de ninguém.

Nossas vida deviam seguir como daquelas tribos que falei.

Eu tenho razão quando digo que você não tem razão de acreditar no que acredita."

_ Eu tenho fé no que acredito.

"É exatamente disso que eu estava falando..."


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