Rascunho IV



Pesadelos II

_ Sofia... Sofia...
_ Ora bolas, o que você quer?
_ Me siga... me siga...
_ Se você prometer parar de me acordar todas as quintas... hã?! Hoje é sexta, eu não dormi ontem. E porque eu não vejo nada?
_ Porque seus olhos estão fechados.
Sofia abre os olhos e percebe que está em uma espécie de fazenda. Está sob a sombra de uma grande árvore e ao seu redor plantações que lembram soja. Diante dela um rapaz não muito branco nem muito negro, baixo, com um chapéu de palha, calça jeans, camiseta e segurando um clarinete na mão direita.
_ Nossa você toca clarinete!!
_ Como sabe?
_ Você tem um nas mãos, oras!
_ Eu poderia ter uma arma nas mãos e mesmo assim não ser um matador ou caçador.
_ É... é... eu sei, mas eu chutei que você toca isso aí. E acho que estou certa.
_ Desculpe meu jeito senhorita. Mas você está certa, eu toco clarinete. E muito bem, não conheço melhor clarinetista do que eu.
_ Humilde você.
_ Não confunda humildade com falsa modéstia. Se é bom em algo, deve sentir orgulho por isso, não ficar com conversinha dizendo que não se é bom.  E eu não disse que sou o melhor, eu disse que sou o melhor que conheço, logo, não duvido que existem outros melhores.
_ Eu penso como você, mas normalmente as pessoas fazem cara feia quando você mostra a elas o quão bom se é em algo, elas sentem que você quer se mostrar, que é arrogante.
_ Não sei de onde veio, mas por aqui as pessoas são inteligentes a esse respeito.
Eles dão uma pausa na conversa, o rapaz encara Sofia com um ar de curiosidade. Sofia olha de volta sem saber o que pensar ou dizer exatamente tamanho seu desconforto. O rapaz fecha os olhos e começa a tocar o clarinete, observado por Sofia, que aos poucos fica extasiada com a beleza da música.
A música não é alegre, nem triste, é de um típico meio de outono onde sabe-se que as folhas vão cair, mas elas estão lá, calmas em seu lugar, aguardando que o vento as leve finalmente.
                Uma brisa bate e mexe levemente os cabelos de Sofia que sente que não está nem onde seu sonho a colocou. As ondas sonoras agem como ondas do mar, a puxam para dentro de si, a garota permite-se afogar nestas ondas sem o menor remorso de voltar...
                _ Sofia... Sofia... acorde

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