Rolê Cultural por Americana... só que não!

É o pontinho azul
Hoje a tarde estava um tanto entediado, peguei minha super titan 150cc com mais de 83.000 km rodados e fui dar uma volta pela cidade de Americana.

Americana com o 19º IDH do Brasil, e com coeficiente de GINI de 0,40, igual ao de Águas de São Pedro e próximo ao de São Caetano do Sul (0,36). Ver a lista do estado de SP.

Americana com mais de 212 mil habitantes, com 4º melhor PIB da Região Metropolitana de Campinas, e o 72º do Brasil.
Rodovia Anhanguera, divisa com Limeira
Americana privilegiada por ser cortada pela rodovia Anhanguera e ter por perto a rodovia dos Bandeirantes, duas das melhores rodovias do país. Vizinha da rica Paulínia e próxima de Campinas, a 14º cidade mais populosa do Brasil e a 3º de São Paulo (perde para São Paulo e Guarulhos).

Cidade de população 78% branca e mais de 90% cristã _ uma diversidade que surpreende!

Bom, foi nesta cidade que coloquei a borracha no asfalto e sai para uma volta. Em poucos minutos decidi que queria dar um passeio cultural pela cidade, ver o que ela tinha a me oferecer.

Praça do Avião
Passei pela praça do avião e nela haviam crianças nos brinquedos, senhoras sentadas e alguns adultos olhando as crianças ou se exercitando nos equipamentos que lá existem. Segui rumo ao centro, onde tem a estação de trem. Ano passado, em fins de semana alternados, haviam eventos de bandas independentes, hoje em dia parece que eles deixaram de existir. Passei por lá e estava tudo escuro.

Segui para a praça principal da cidade, onde fica a biblioteca. Ela não abre de fim de semana, afinal, ninguém sente a necessidade de ler livros de sábado ou domingo. Ao lado da biblioteca outro banco de areia com brinquedo para as crianças.

Fui para a avenida Brasil, a principal da cidade. Logo de cara outro banco de areia, mas este estava vazio _ talvez porque tinham poças d'água n'areia. Pilotei até o final da avenida, e contei aproximadamente 130 pessoas, das quais 2 eram negras ou pardas, as demais brancas, todas caminhando, pedalando ou correndo. Passei por alguns barzinhos que não estavam lotados de gente, porém não tão vazios.

O Jardim Botânico
Fui até o jardim botânico onde fica o observatório _ que estava fechado, afinal, as estrelas só aparecem nas noites de sexta feira das 20 às 22 horas _ dei uma volta e sai de lá. Contei 35 pessoas, das quais, 2 eram pardas.

Rumei para o pretenso Centro de Cultura e Lazer (CCL), que fica na mesma avenida Brasil. Um monte de adolescentes com skate saiam de lá enquanto eu chegava. Entrei no lugar, que tem uma quadra de basquete não iluminada (acho que é para ninguém jogar a noite) que tinha 3 caras arremessando. Tinham umas 10 barracas vendendo artefatos artesanais: toalhas de mesa, bijuterias, cestas, trequinhos de pendurar na parede e talz. Contei 40 pessoas, das quais 5 negras _ aparentemente era uma família, pois estavam todos juntos sentados próximos uns aos outros conversando.

Segui rumo ao teatro da cidade, fechado para reformas. Mas quando aberto, tem espetáculos caros _ que acaba afastando a população menos favorecida, que normalmente já não é incentivada a participar.

Fatec - obrigado pelo diploma, digo, por tudo que me ensinou =D
Fui até a FATEC, que eu sabia, mas só para confirmar, fui ver se estava fechada. E estava.

Na volta passei pela casa do chopp e pelo bar de blues: Tinha gente saindo pelo ladrão, a maioria com idade dos 30 anos para baixo. O hotdog estava lotade de gente, e a fila do Mc Donald's, nem se fala.

Casa Herman - um lugar cheio de história
Aqui em Americana tem a casa Herman, que nas noites de sexta e sábado vira o clube do vinil, com bandas ao vivo e som ambiente _ rock, heavy metal ou reggae. Mas de domingo não abre também _ quando abria não ia quase ninguém também.

Americana tem uma página cultural no facebook, seguida pela fantástica quantidade de 230 pessoas e o site do Conselho de Cultura de Americana, seguido por 30 testemunhas. Enquanto isso, o boteco do forrozeiro tem mais de 7000 seguidores.

Praia dos Namorados... grande potencial de bairro para especulação imobiliária _ será que por isso ele ainda não é limpo?
Passei pela escola Polivalente (Centro Paula Souza), onde na frente tem um ponto de ônibus, e neste ponto, tem tipo de uma prateleira de livros. A prefeitura fez isso em alguns pontos da cidade _ eu só vi em 3 pontos até hoje, mas deve haver mais... né? _ colocou livros para que as pessoas lessem enquanto aguardavam o ônibus. Eu fui dar uma olhada e fiquei extremamente decepcionado com o que vi: livros e revistas rasgadas, grudadas por causa da chuva. Tinham mais revistas, e na maioria eram porcarias. Eu pensei em tirar uma foto, mas meu celular não tira fotos boas a noite _ nem de dia shuasaashusahusa.

Meu rolê cultural terminou num posto de gasolina, onde comprei cerveja e vim tomar em casa!

Moral do Rolê

A cidade não tem praticamente nada para oferecer para seus cidadãos na semana, e menos ainda nos fins de semana. Eu não estou explicitamente culpando a prefeitura e suas secretarias, de forma alguma. A culpa é quase que 100% do povo.

É quase que uma questão econônica: demanda gera produção. Sem demanda, não há produção.

Lendo o livro 1808 eu percebi que o Brasil nasceu mais do desejo de Portugal se separar do Brasil do que do próprio brasileiro. As grandes mudanças não foram feitas pelo povo, foram feitas por seus líderes. E parece que até hoje tem sido assim. O povo quase não tem força de fazer mudanças, seja por ignorância, por pura incapacidade de se organizar, por desleixo ou porque no fundo, quase ninguém se importa.

A cidade de Americana não é diferente. É uma cidade burguesa, onde muitas pessoas vivem bem, tem carros, casas bonitas e bem protegidas, saem para gastar ou fazer exercícios a noite para manterem um corpo bonito.

As escolas e a faculdade são fechadas. Só tem uma faculdade pública que é totalmente voltada para o mercado de trabalho, não tem um curso sequer de desenvolvimento do pensamento.

Alguém que argumente que existem 5 eventos culturais não pode ser sério. São mais de 200 mil pessoas, somos umas das 20 cidades mais desenvolvidas do Brasil. E ainda assim, tem mais bares e igrejas do que escolas ou espaços públicos voltados para a cultura e lazer, ou seja, para o desenvolvimento do povo.

E pelo que parece, estamos todos ok com isso.

A cultura de Americana para mim, é reflexo dos livros rasgados que vi na prateleira. E o que é pior, não vejo qualquer sinal de que as coisas vão mudar ou melhorar.

Não seja tolo de pensar que me isento da culpa por nosso fracasso. Sou tão culpado quanto qualquer cidadão desta budega _ só não sou culpado de votar errado, hehe.

Não nasci aqui, mas aqui vivo há quase 20 anos, então eu sou mais americanense do que paulistano. E no fundo isto também é uma bobagem, fronteiras são traços imaginários. Eu quero que o povo de Americana seja tão culto quanto o povo de Nova Odessa, quanto o povo de Odessa ou quanto o povo de Paris ou quanto o povo de Tokyo, não tem essa de cidade.

Quando você vê mais gente com cervejas ou controles remotos nas mãos, do que livros de ciência, você passa a ficar confuso, pior, inerte.

Como se enfrenta a inércia, óh Sir Newton?

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