Exercício de Cor II


Infográfico interessante: tinyurl.com/b7hvwkl e tinyurl.com/aezwyfh
1º de abril de 2013.

Hoje estava eu caminhando pelo bairro Werner Plaas, aqui em Americana. É um bairro de classe média alta, com casas bonitonas, asfalto bom, cheio de árvores e silencioso mesmo nas horas de pico. Não é sempre que caminho por lá, cada dia eu caminho para um rumo diferente para não ficar enfastiado, enfadado, encorijado, aborbido, amorfinado, ou seja, aborrecido.

Vez e outra eu ainda faço o exercício de cor que propus neste post [Exercício de cor] que consiste em contar quantos negros e brancos existem numa determinada localidade. E nesta caminhada de hoje eu fiz novamente, mas fiz apenas porque muito me chamou a atenção as pessoas que vi, não sai de casa pensando: "nossa, vou ver quantos negros e brancos tem no bairro de playboy lá". Não dessa vez.

[Lembrando: a taxa de brancos em Americana é de aproximadamente 80%, ou seja, a cada 10 pessoas que aqui vivem, 8 são brancas, pretos (2%) e pardos (17%) somam quase os 20% restantes]

Novamente a grande maioria das pessoas que vi eram brancas, estavam caminhando com seus fones, com seus cães ou pedalando.Visivelmente você percebia que era algo recreativo.

[Tinha um guarda daqueles de moto passando, com aquela buzininha chata, o detalhe: ainda não era nem 18 horas].

Poucas vezes vi tantos negros neste bairro no mesmo dia: Três _ na realidade 2, a moça era parda.

A moça que vestia roupas simples, estava carregando uma caixa de papelão, uma sacola e acho que uma bolsa. Percebi pela dificuldade dela levar tudo isso nas mãos. Não parecia caminhar recreativamente, parecia alguém que voltava do trabalho _ com uma pressa danada _ e da rua que ela veio, só tinham casas, nenhuma empresa de qualquer outra coisa.

Um dos homens era aparentemente um senhor de idade avançada, estava todo sujo e parado perto de uma horta. Não fiquei tempo o suficiente para saber se ali era dele, o que até faria sentido, pois se estivesse plantando algo, estaria de fato sujo.

O terceiro examinava as lixeiras em busca de alguma coisa, talvez latinhas de alumínio. Mas este aparentemente era alguém que vivia nas ruas. Era magro, tinha as calças sujas e puídas, ele também estava sujo, tinha uma barba grande e não se locomovia habilmente, carregava uma mochila velha e um saco preto de lixo.

03 de abril de 2013.

Novamente parti para caminhada, mas desta vez para o rumo do bairro São Luís que é um bairro de classe baixa, gente pobre como eu _ ou nem tanto, já que alguns tem a casa própria (e algumas bonitas) e eu moro de aluguel.

O movimento do bairro é maior, passam mais carros, o asfalto não é dos melhores, tem vários comércios e pontos de ônibus _ lembrando que rico não precisa de comércio, nem de ônibus em seus bairros, afinal eles têm carro e não querem barulho por perto.

Eu comecei o exercício da contagem, mas por uma distração acabei me enrolando e não consegui contar quantos negros, brancos ou pardos tinham. Percebi que eles se misturavam muito entre si, claro que a maioria era de brancos, mas desta vez, essa maioria se confundia por entre as demais pessoas.

No bairro de rico eu podia ser facilmente chamado de pardo, no bairro de pobre, eu até que era bem branco.

Resultado

Mal entendido né ?! Video
Eu poderia fazer estes dois trajetos durante anos, e não me surpreenderia se o resultado fosse sempre o mesmo. Inclusive poderia não publicar este post hoje e deixá-lo mais para frente com mais dados da minha contagem, só que não vou fazer isso.

Meu intento não é clamar a mim a descoberta da roda: "óh, os brancos tem mais dinheiro que os pardos, negros e índios, juntos". Não é isso. O objetivo é tirar essa falsa impressão que a questão racial ou étnica esteja resolvida. É não aceitar que existam por aí pensamentos como de um diretor global que tem a pachorra de lançar um livro dizendo: Não somos racistas (LOL) usando como argumento (?) a questão da miscigenação, a questão dos tons de pele mimimi.

Essa questão está longe de ser resolvida, e definitivamente não é jogando a poeira debaixo do tapete que conseguiremos acabar com essa diferença descabida. Imagine hoje em dia, com tanta tecnologia, avanço científico e disponibilidade de informações, como podemos aceitar que pessoas vivam isoladas em guetos apenas por questões melaninícas [eu inventei essa palavra agora, hahaha].

Essa é a grande questão que precisa ser respondida e resolvida: Até quando os negros vão viver nos guetos das cidades?


Nota Mental 1
Se você acredita em preconceito ao contrário, por favor, vá embora deste blog, tipo, agora, é sério.

Nota Mental 2
Eu sou a favor das cotas para negros nas faculdades. Sinceramente não acho que seja a melhor solução do mundo, até porque o problema é mais embaixo (no nível básico) mas pelo menos é melhor que a inércia.

Nota Mental 3
Usei a expressão "exercício de cor", apenas para chamar sua atenção, escasso leitor, a frase quer dizer: exercício de cor de pele, assim como poderia ser exercício de etnia ou de racismo, e daí por diante.

Auf Wiedersehen!


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