Preconceito, Brigas de Torcida e a Rotina do Futebol



Dia 28 de agosto, na partida entre Grêmio e Santos, na Arena do Grêmio, parte da torcida do Grêmio insultou o goleiro Aranha, chamando-o de macaco ou fazendo gestos que lembravam o animal. O goleiro ficou puto e pediu para que filmassem os babacas que estavam lhe xingando.

A ESPN conseguiu filmar uma guria e outros caras (negros, entre eles).

Os torcedores foram identificados, e foram encaminhados a polícia para prestar depoimento. Além disso, STJD quer excluir o Grêmio do campeonato.

O vice presidente do Grêmio aproveitou o momento, e levantou a bola para o fato de que times gaúchos (e a torcida também) são taxados de "viados, bichas, gays" por torcidas de outros estados, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro.

E acrescento outra situação: mulheres que apitam ou bandeiram, ou comentam, também sofrem com o machismo dos torcedores, jogadores, árbitros dirigentes.

O racismo é de fato um problema no futebol, mas não podemos fechar os olhos para os outros problemas. É muito bonito criticar o racismo e dizer que somos todos iguais, mas quando o assunto é homossexualidade é comum os risos e o sarcasmo. A reclamação do dirigente do Grêmio é digna, não adianta atacarmos um problema e fecharmos os olhos para os outros. Quando é que o machismo que impera no futebol (mundial) vai dar espaço para este assunto?

E no caso das mulheres, quando elas serão terão o mesmo tratamento profissional que os demais profissionais homens têm?

O viés de grupo


O problema não é o futebol em si. O problema é como somos educados, como somos no dia a dia. No estádio vamos exteriorizar aquilo que aprendemos em casa, adicionando o fato que poderemos fazer coisas piores, uma vez que estaremos em grupo.

Aquela menina que gritou "ma-ca-co" para o goleiro Aranha, talvez nunca faria aquilo na rua, no trabalho, na faculdade. Mas a maldição do grupo parece que lobotomizou e ela fez o que fez.

Imagine que você vai para o estádio sózinho assistir a uma partida. Sim, sózinho. Jogadores, comissão técnica, imprensa, árbitros e você. O juiz erra, inverte a marcação da falta a favor do adversário. Você, sentado sózinho no estádio, vai xingar o cara? E se ele parar o jogo e olhar para tua cara, e falar "desce aqui?". Ao menos que tu seja muito encrenqueiro _ ou esteja muito nervoso _ você cederá a provocação e vai até lá tirar satisfação. Mas pessoas educadas não fazem isso, certo?

Vamos viajar mais um pouco.

Imagine que seu escritório foi movido para o centro de um campo de futebol. Este escritório tem umas 50 pessoas, entre estagiários, analistas, coordenadoras, diretores e às vezes o dono dá uma passada por lá. Nas arquibancadas estão os torcedores. Você tem que elaborar um relatório e erra o cálculo de uma coluna. A torcida não perdoa meu caro! Estão lá xingando tu e tua mãe de tudo quanto é nome! Depois teu chefe te dá uma tarefa que tu não gosta de executar, e você fica enrolando. Neste momento, uns 10 torcedores estão querendo pular a grade, reclamando da sua falta de comprometimento com o "time".

Como seria a vida se tivéssemos torcedores observando tudo o que fazemos e agirem igual as pessoas agem nos estádios? Vou melhorar a pergunta: essa galera que cobra comprometimento, vergonha na cara dos atletas, como são estas pessoas no seu dia a dia?

Hipócritas, malditos hipócritas!

Qual a solução para o preconceito / brigas no futebol?


O STJD normalmente gosta de pular no pescoço dos clubes e puni-los por todas as insanidades cometidas pelas suas torcidas. A única melhora que vejo, é que cada vez os clubes tem que se esforçar mais para descobrir quem são os meliantes, expulsa-los do quadro de sócios torcedores (se forem sócios) e levar seus nomes para a polícia. Depois sabemos o que acontece...

O racismo, a homofobia não vão acabar, podem diminuir, mas acabar não vão. O que se vê no estádio, é uma mera demonstração do que são as pessoas no seu dia a dia, com o agravante do viés de grupo. E isso se torna quase que incontrolável para instituições falidas, como os clubes de futebol, que vivem com o pires na mão pedindo dinheiro para a rede globo.

Já que não sabemos o que fazer, os clubes poderiam se reunir, contratar uma consultoria, e esta faria um estudo a nível mundial, para saber como outros países enfrentaram seus problemas nas questão da violência nos estádios e racismo _ homofobia não é enfrentada em lugar algum. Depois do estudo, os clubes se reuniriam com agentes do governo no sentido de tentar uma solução em conjunto, pelo menos para diminuir o problema. Só que os clubes são desunidos... todos enfrentam os mesmos problemas, jogam nos mesmos campeonatos, e não tem a capacidade / vontade de se unirem em prol de algo bom para todos.

Ou seja, a solução parece não ter solução...

ESPN - Grêmio diz que seus torcedores sofrem homofobia por 'serem gaúchos'

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