Eu já usei o
twitter faz muito tempo, e não me lembro de ter usado muito mais que 6 meses. Lembro-me
da dificuldade de escrever algo com até 140 caracteres, da alta velocidade em
que os assuntos mudavam, da dificuldade de acompanha-los e principalmente do grande
número de postagens inúteis que eu lia _ um pecado que até eu cometi algumas
vezes.
O pessoal
levou a pergunta “O que você está fazendo?” a sério demais, e postavam informações
altamente importantes como “vou ao banheiro”, “quero café”, “está frio hoje”, “vou
trabalhar”, “voltei do trabalho”; quando a hora e os minutos coincidiam “20:20”;
um monte de #hashtags sem sentido entre outras coisas.
Encarando o
twitter como um campo social, ele tem seus troféus. Ganham os troféus aqueles
que postam mais vezes, são mais retuitados e tem mais seguidores, podendo ser
chamados de pessoas influentes. Isso mesmo, uma pessoa influente na rede porque
tem milhões de seguidores.
Existem até
medidas desesperadas de pessoas quem usam robôs para mostrar ter mais
seguidores do que na realidade tem. Fora os pactos de pessoas que te seguem com
o único objetivo de você segui-la de volta, e ela ter mais seguidores.
Quando um
artista vai na TV, alguns apresentadores tem informado “fulano tem tantos
milhões de seguidores no twitter”, como se realmente isso fosse algo relevante
de um ponto de vista intelectual, social _ pode até ter financeiro, quando sabemos que uma pessoa com
tantos seguidores pode emplacar alguns patrocínios.
E o conteúdo
da pessoa e de suas postagens? Não importa.
Jogador de
futebol, apresentador de stand up, ex-BBB, cantor de música de qualidade
questionável, político de honestidade questionável, artista decadente, todos
eles tem milhões de seguidores a despeito dos conteúdos de suas postagens.
O ex-atleta
de futebol em atividade Kaká [ele joga na
MLS, ou seja, futebol amador], tem quase 25 milhões de seguidores. O
astrofísico, cosmologista, autor e divulgador de ciência Neil deGrasse Tyson
tem pouco mais de 5 milhões. Claro que nem mesmo no twitter do Neil todas as
postagens são relevantes _ porque ele é um ser humano e se permite também falar
coisas desimportantes.
[Se Einstein estivesse vivo e tivesse um twitter, quantos seguidores ele teria?]
Acho que tem
razão ao dizer que o formato do twitter parece que realmente foi feito pensando
no gorjeio dos pássaros: ao gorjear um som sem significado, avisa para os
demais pássaros que está ali. Marca presença.
Quem é do
marketing entendeu bem este conceito, e hoje vende: “Você só existe se é visto”,
ou como bem parafraseou: “sou visto, logo existo”. Se eu busco o nome da sua
empresa num mecanismo de busca qualquer, e não a encontro, um marqueteiro dirá
que sua empresa não existe. E ele não diz: “não existe na internet”, ele diz
mesmo “não existe”, como se o mundo on-line prevalecesse sobre o off-line.
O twitter
cria esse efeito de fama, podendo tornar pessoas que não aparecem na TV também
em pessoas famosas. E ainda que a pessoa não se torne famosa de verdade, ao
ganhar um pequeno destaque, mesmo que em um nicho fechado, a pessoa vai
acreditar que representa algo importante e de repente ela sente que saiu do
gueto dos desconhecidos, dos normais, dos anônimos, dos medíocres, e agora ela
é alguém reconhecida.
Parece muito
ilusório.
A questão
aqui é refletir o quanto vale gastar tanto tempo de vida postando mensagens
curtas sem o menor conteúdo apenas para acreditar que se vá se tornar influente
de alguma forma.A maioria dos artistas paga para alguém gerenciar os conteúdos
de suas redes sociais, mas e os meros mortais? E nós que estamos na base da
pirâmide? O ganho é tão maior que o desperdício de tempo? Temos tanto tempo a
perder agindo como pássaros, gastando em vão toda uma estrutura cerebral que
desenvolvemos?
Não faz
sentido a humanidade ter chegado tão longe na construção do conhecimento para
ser barrada por apenas 140 caracteres.
Saudações, de seu leitor.
Este post é uma resposta para uma das cartas que Zygmunt Bauman publicou na revista italiana La Repubblica delle Donne entre 2008 e 2009, que depois foram reunidas e editadas para o livro 44 Cartas ao Mundo Líquido Moderno(Zahar).
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