Elogio da Ignorância


Eu não sei, eu não quero saber e tenho raiva de quem sabe.

Saber é ruim. Saber dá trabalho, para saber tem conhecer o que outros sabem, e para isso tem que ler. Preciso gastar um tempo enorme lendo coisas que pessoas velhas, cadavéricas ou que já viraram pó escreveram, e pior, às vezes em línguas que eu nem sei. Livros são apenas para enfeite, para fingir que eu sei das coisas, porque fingir saber é mais fácil do que saber.

Para saber tenho que ouvir o que os outros dizem, e eu não tenho paciência para ouvir argumentos e pensar em respostas que façam sentido para outra pessoa. É mais fácil soltar alguns clichês que eu coleciono, e se nem isso funcionar, basta que eu desqualifique a pessoa, falando do tamanho do nariz ou mencionando que o pai dela não presta. Se nem isso funcionar, porque tem gente mala que não se dá por vencida facilmente, eu simplesmente digo que é minha opinião e que a pessoa tem que respeitar.

Para saber tem que pensar, e pensar cansa. E quando eu descubro que o que acabei de saber, não era o que eu sabia, eu teria que aceitar que estou errado, e trocar o que eu achava que era sabido antes, pelo que é sabido agora, e isso também é ruim. Imagina, ficar horas e horas discutindo bobagens como a justiça, o amor e o belo? Isso é coisa de gente doida que não tem mais o que fazer. Tem tanto mato para capinar e as pessoas gastam pensando em coisas. Só gosto da reflexão do meu reflexo do espelho, que mostra o quão bonito sou, o quanto sou feliz e o quanto mereço tudo que eu tenho.

Gosto das minhas convicções, dos meus preceitos, preconceitos, são meu lar, meu cantinho sagrado que eu não quero mais deixar. Para dizer que não leio, tenho meus poucos amigos que entendem, que postam textos curtos com imagens super inteligentes e que vão de encontro a tudo aquilo que eu sei. Os outros amigos eu finjo que não vejo o que eles dizem, aqueles amigos que sabem das coisas, leem livros e gastam tempo com essa coisa de pensar.

Saber causa tristeza. Imagine saber o que vem depois da morte? Saber como a vida surgiu, saber como funciona a cabeça das pessoas e como funciona a sociedade? Isso só pode causar tristeza no final. Bom mesmo é viver na caverna, olhando para aquela bela parede de sombras, com aquele calorzinho aconchegante que só a ignorância nos traz.

Um bigodudo metido a saber das coisas dizia que o ser mais vicioso que existe é o sacerdote, eu discordo veementemente, este ser vicioso é o filósofo. Metidos a quererem a plantar a semente da dúvida nas cabeças das pessoas e a fazerem pensar. Ora, ora! O cheiro da relva, o suor do trabalho e os prazeres da carne não lhe suficientes? Do que mais precisamos?

Claro, são apenas perguntas retóricas, porque como se sabe, eu não quero saber.

  

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