Cadê os sindicatos ?


Este ano "comemoro" 20 anos de trabalho _ dos 32 de idade que irei completar em breve. Já fiz muita coisa nessa vida: já trabalhei cortando tapete em indústria têxtil; dirigi carro de som; entreguei papel de casa em casa; fui atendente de fast-food; estoquista de loja de calçado; professor de informática; suporte de problemas técnicos de internet por telefone e finalmente me estabilizei como programador de sites e sistemas via web.

E se tem algo que como trabalhador ouvi muito falar, é de um tal de sindicato. Este nome costuma vir geralmente à tona, em duas épocas do ano: na época do pagamento do imposto sindical _ que é quando pegam um dia do nosso salário para eles _ e na época do dissídio _ que demoram meses para decidir qual o valor do aumento.

Ouvi falar que a galera do sindicato luta pelo direito dos trabalhadores, e embatem os patrões para conseguir melhorias para os trabalhadores. Mas já ouvi falar muito também, que esta mesma galera não gosta muito de se opor aos patrões, e eles meio que tentam sobreviver por meio de conciliações com os donos dos meios de produção.

Com o ingresso do presidente Temer para a presidência, ele fez o que era esperado pelos capitalistas, e fez passar a lei 13.467/2017, a chamada reforma trabalhista. Um dos pontos polêmicos, era a desobrigação por parte do trabalhador, do pagamento do imposto sindical _ aquele dia de trabalho que pegam todo ano do seu salário _ desobrigação essa, que foi considerada constitucional pelo STF.
Art. 611-B.  Constituem objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, exclusivamente, a supressão ou a redução dos seguintes direitos: (...)
XXVI - liberdade de associação profissional ou sindical do trabalhador, inclusive o direito de não sofrer, sem sua expressa e prévia anuência, qualquer cobrança ou desconto salarial estabelecidos em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho; 
E imagino que sem esse aporte financeiro dos trabalhadores, os sindicatos provavelmente vão se enfraquecer. Até porque além dos novos trabalhadores que provavelmente não irão se afiliar aos sindicatos, os que já estavam, pedirão a carta para sair do sindicato para não terem mais este desconto em seu salário.

Toda vez que vejo uma pessoa indo com uma carta pedir sua saída do sindicato, eu entendo completamente o motivo: a maioria dos trabalhadores não sabem para que vocês existem, não sabem por quem vocês lutam, se por vocês mesmos, ou pelos patrões. As pessoas entram e saem da empresa sem ter a menor ideia de quem estava supostamente lutando por ela.

E antes de sair culpando os trabalhadores por "não irem atrás", um aviso: existe todo um aparato na sociedade que tem a função justamente de desmobilizar e alienar os trabalhadores. Instituições como a escola, a igreja e os meios de comunicação agem como uma fôrma de produção de mão de obra alienada e despolitizada.

Os novos tempos

Deixando as ironias e críticas de lado, reconheço a importância dos sindicatos na sociedade capitalista. Movimentos operários antigos como o cartismo e o ludismo e muitos outros contemporâneos que empoderaram os trabalhadores, e os motivaram a enfrentarem coletivamente a superexploração dos capitalistas. Sem os movimentos operários, provavelmente crianças ainda estariam nas fábricas, e os adultos trabalhariam 16 horas por dia em condições precárias, com um salário de fome, sem quaisquer tipo de direitos e sem dignidade.

Hoje vivemos numa época em que os trabalhadores praticamente não se enxergam mais como uma classe. A individualização, a competição e as formas sedutoras (brindes, prêmios, medalhas e e-mails de reconhecimento) que as empresas usam para vender a ideia de que o trabalhador não é um ser explorado, mas sim um colaborador [risos], faz com que cada vez mais, estes vivam apartados entre si, cada vez mais distantes da noção de que são uma classe explorada.

E para completar, vivemos numa época em que dia após dia, aumenta mais a violência dos capitalistas contra nós trabalhadores, e mais e mais direitos nos são retirados.

Sinceramente eu não sei quem ainda tem confiança no Estado ou na justiça, de fato eu não sei. Mas o que eu sei, é que os trabalhadores nunca sofreram tanta violência, e que por isso, agora é a hora mais urgente em que eles precisam se unir, para não perderem todo o pouco que lhes resta.

É chegada a hora dos sindicatos saírem de seus escritórios, de sua burocracia, e irem na porta de cada oficina, de cada loja, de cada indústria, de cada escola e conhecerem aqueles que tanto precisam de vocês. Vocês precisam atuar de forma mais combativa, precisam trazer o trabalhador para o lado de vocês, precisam fazer com que os trabalhadores entendam que, mais que uma classe em si, que estes são uma classe para si. É hora de fazer barulho, é hora de fazer piquetes, de espalhar consciência crítica, compreensão e união. É hora de falar com o trabalhador. Não dá mais para pelegar!

Não é só sobre a sobrevivência de vocês enquanto uma instituição, organização, tal seja, é uma questão da sobrevivência de todos nós, de mantermos o mínimo de dignidade, e não sermos lançados no caos da informalidade, da miséria e da falta de dignidade.

Referências

Folha de São Paulo. Supremo valida o fim do imposto sindical obrigatório. Em 29 de junho de 2018. Disponível em <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/06/supremo-valida-fim-da-contribuicao-sindical-obrigatoria.shtml>.

Conjur. STF declara constitucional fim da contribuição sindical obrigatória. Em 29 de junho de 2018. Disponível em <https://www.conjur.com.br/2018-jun-29/stf-declara-constitucional-fim-contribuicao-sindical-obrigatoria>.

Planalto. LEI Nº 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2017/Lei/L13467.htm>

Portal Educação. Cartismo e Ludismo. Disponível em  <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/o-ludismo-e-ocartismo-revolucao-industrial/45840>

Postar um comentário

0 Comentários