Escritos sobre o amor líquido: Até que a morte nos separe


Com a mudança nas estruturas de parentesco, a ideia romântica de "até que a morte nos separe" deixa de fazer sentido e entra cada vez mais em decadência. Hoje em dia é comum as pessoas se apaixonarem mais de uma vez, e uma vez que iniciam um relacionamento, não se veem mais obrigadas a permanecerem nesta relação para sempre _ mesmo a pressão social para que isso aconteça, tem diminuído drasticamente.

Costumamos ver pessoas mais velhas em casamentos que duram mais de 30,40 e 50 anos, alguns deles com casais felizes e outros com casais infelizes, mas que se veem obrigados a permanecerem unidos, tal como lhes foi ensinado. Lembro-me inclusive, de que o termo "separado" era quase um xingamento, e quando a mulher era separada, era pior ainda.

De qualquer maneira, neste tempo, quando as pessoas buscavam uma relacionamento, já o faziam com a ideia de que este seria o primeiro e o último. O amor idealizado lembra o discurso de Aristófanes, em o Banquete de Platão, que conta que existiam seres andróginos, que tinham duas cabeças, quatro pernas e braços e duas partes genitais, que se rebeleram contra os deuses, e como punição, Zeus os separaram em dois corpos, e estes sentindo a falta da outra metade, buscariam essa metade na tentativa de fundirem-se em um só...

Em suas obras, Bauman insiste que cada ganho na vida social, gera uma inevitável perda. Outro conceito que podemos pensar é o de incerteza, para fazermos a seguinte pergunta: se o que entendíamos como conceito de amor, era o "amor eterno", o que passa a ser o amor neste novo tempo? 

Ou perguntando à forma do autor: Quais experiências a se passar para chamar tal sentimento de amor?

  • Podemos dizer que agora, amor se resume a uma noite de sexo?
  • Quando encontramos uma pessoa na rede social, e ficamos 24 horas falando com essa pessoa, isso é amor?
  • Quando achamos alguém que faz tudo que gostamos, ou que dá o mesmo rolê que o nosso, é amor?
  • Uma pessoa que curte todas as nossas fotos no instagram, posta selfies em casal, foto no perfil do facebook em casal e tem uma foto da pessoa como plano de fundo do celular, isso é que é amor?

Percebe-se que o padrão daquilo que chamávamos de amor decaiu _ ou quem sabe o padrão que existia que era muito alto...

Como as relações não são pensadas em termos de "amor eterno", isso gera um novo desdobramento, agora estamos cientes que qualquer relação atual, pode não ser a última, que pode ser apenas mais uma, e que se der errado _ por qualquer razão _ temos o consolo de que teremos a chance de uma próxima tentativa. Pensando de forma mais radical, aqueles que estão se relacionando, já tem em mente a fragilidade desta relação.

O autor chama atenção para isto: a própria consciência da fragilidade das relações, torna as pessoas mais propensas a pensar o amor como episódios intensos, curtos e impactantes. E logo que estas sensações passam, acaba o amor, acaba a relação, busca-se outra pessoa.

Zygmunt Bauman em sua obra "Amor Líquido" (Zahar, 2003), busca entender a fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança e os desejos conflitantes "de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos". Pretendo fazer uma série de textos que busquem dialogar com esta obra.

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