Recursos naturais


Quando estava na escola, não vou me lembrar em qual série agora, mas provavelmente nas aulas de ciências ou geografia, passei a ouvir este termo: recursos naturais. E aprendi que deveria associar este termo com a natureza. Agora já grandinho, na casa dos 30, e com alguns fios brancos querendo surgir, vejo na internet outro desastre ambiental, outro crime contra a natureza, e este termo me vem a mente novamente.

Um recurso, é um meio, é algo que tem a utilidade para se chegar a um fim, a um objetivo. É algo que serve para ser usado. Algo natural, refere-se de fato à natureza, ao meio ambiente, em oposição ao urbano. Portanto, juntando as duas coisas, é possível termos a noção de como nós, urbanos ocidentais, descendentes de europeus, nos relacionamos com a natureza: ela é um meio para um fim.

A natureza é um mundo paralelo ao mundo urbano. O mundo urbano é o civilizado, moderno, desenvolvido, progressista, evoluído. A natureza é o selvagem, o incivilizado, agrícola, atrasado, capial. No mundo urbano, que cresce cada dia mais, produzimos cada vez mais produtos, criamos mais desejos de consumo, e ao consumir produzimos mais lixo. Tudo à expensa do mundo da natureza, que á tratada como coisa a ser explorada, como recurso natural, como commoditie e que dia após dia nos dá sinais de seu esgotamento, sinais estes que fingimos ou ignoramos ver.

Podemos olhar para estes desastres, para estes crimes ambientais, e nos perguntar: Que tipo de mentalidade, de cultura, que está criada nesta sociedade, que simplesmente é incapaz de se importar com a natureza e a qualidade de vida dos animais, humanos e não humanos, em nome da exploração desmedida, em nome de uma busca alucinada por mais e mais lucro? Que tipo de mentalidade alimenta a ganância entre as pessoas, e as tornam competidoras entre si, tornando-as desconfiadas e cada vez menos solidárias? Que tipo de mentalidade fomenta um individualismo feroz, que faz com que certos indivíduos de fato creiam que são controladores e totalmente responsáveis por seus fortúnios e infortúnios? Que tipo de mentalidade acha mesmo que existe justiça na riqueza de poucos às custas da exploração de muitos?

Este caso não é o primeiro, e definitivamente não será o último. Esta empresa certamente está fazendo dinheiro porque tem demandas, porque tem clientes, porque tem quem se beneficie de tudo que eles produzem, de tudo que eles exploram. Nós vamos chorar pelos mortos, lamentar pela desgraça cometida contra a natureza, mas continuaremos a consumir, consumir e consumir. Hoje foi a Vale, e amanhã será outra, e depois de amanhã outra. Ontem foi em Mariana, hoje foi em Brumadinho, e amanhã pode ser em qualquer lugar do Brasil ou do mundo. Todo um planeta se autodestruindo, derrubando árvore após árvore, matando rio após rio, extinguindo uma espécie após outra, vivendo sob a mesma lógica.

Não vim aqui minimizar o dano que esta aberração de empresa cometeu, mas vim para oferecer outro olhar, outra perspectiva. Vim para dizer que ela faz parte de uma lógica na qual todos nós nos englobamos. Uma empresa não mata um planeta sozinho, somos nós, e com a nossa filosofia consumista, nossa ilusão de que vamos encontrar felicidade preenchendo nosso vazio existencial com mercadorias.

Não podemos mais olhar para a natureza como um recurso. Ela deve ser vista e tratada como essencial, como parte de nossas vidas, como a própria extensão daquilo que nós somos. E esse é um tipo de cultura que deve vir desde o berço. Eu poderia ir mais longe, e dizer que deveríamos ter uma relação quase que sagrada com a terra. Pois talvez seja a única forma de valorizá-la, e entender que a preservação da natureza, é a preservação da nossa própria existência.

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