A última batalha na Síria?



Entender o que acontece no chamado oriente médio é bem complicado, inclusive pude verificar isso ao ler alguns especialistas no ramo, eles mesmos tem dificuldade de explicar as complexidades instaladas ali, e pouco arriscam em palpites, apenas deixam suas impressões das várias possibilidades.

A guerra na Síria completa 9 anos e parece que pode chegar ao fim.

O cerco está se fechando cada vez mais para os opositores de Bashar al-Assad que controlam apenas a província de Idlib, no noroeste da Síria que faz fronteira com a Turquia. A Turquia fechou os portões da fronteira em 2015, para evitar a chegada de mais imigrantes _ durante os 9 anos de guerra, mais de 3 milhões chegaram ao país turco. Inclusive o líder turco, Erdogan, costuma ameaçar os países europeus dizendo que pode abrir suas fronteiras para a ida desses imigrantes para o resto do continente.

Estes opositores de Assad, segundo o jornalista Pepe Escobar, é o que o ocidente gosta de chamar de "rebeldes", e que são na verdade jihadistas e proto-jihadistas: os Hayat Tahrir al-Sham, que são em sua maior parte muçulmanos ultraconservadores salafitas (sunitas que têm uma visão fundamentalista do islã, que inclusive apoiam a aplicação da Xaria). E além de tudo são um braço armado da AlQaeda.

Antes de seguir, só preciso esclarecer as posições dos envolvidos:

  • O governo sírio, de Bashar al-Assad, é apoiado pela Rússia, que também apoia o Irã. O Hezbollah, que é xiita, apoia também o Irã e o governo sírio;
  • (O Hezbollah é considerado como uma organização terrorista pelos EUA, Israel, França, Reino Unido, Arábia Saudita, mas não por países como Russia, China, Cuba, Venezuela, Coreia do Norte);
  • Do outro lado temos os opositores do governo de Assad: exército nacional da Síria livre, Tahrir al-Sham, o emirato do cáucaso (chechenos, adversários dos russos) e dissidências do AlQaeda. A Turquia diz que é contra os terroristas, mesmo apoiando estes grupos.

E o que quer o governo sírio?

O governo espera tomar controle de todo o seu território. A Rússia tem o aval do conselho de segurança da ONU (que tem como seus membros permanentes: China, França, Reino Unido, Russia e EUA) para pacificar a região.

O que quer a Russia?

Basicamente estreitar suas relações com Assad, conseguir acordos pelo gás e petróleo, "colaborar" na reconstrução do país e colocar mais um pé no oriente médio.

E o que quer a Turquia?

Além dos interesses financeiros, a Turquia espera expulsar os curdos da região. Erdogan diz que quer pacificar a região, o que é um problema, porque a região fica dentro de outro país, onde ele não tem jurisdição.

A Turquia é um país membro da OTAN e inclusive pediu apoio de mísseis para os EUA (também membro da OTAN).

Ameaçando abrir as fronteiras para a saída dos imigrantes, Erdogan espera arrastar a OTAN para a guerra. Para a OTAN e EUA interessa uma briga entre Russia e a Turquia, que antes eram aliados.

Aqui estamos diante de uma chamada guerra por procuração (proxy war), onde os envolvidos não se atacam diretamente, mas usam outros para fazê-lo.

E o povo ?

A região de Idlib recebeu quase 1 milhão de pessoas refugiadas do enfrentamento com o governo de Assad, principalmente mulheres e crianças _ totalizando aproximadamente 3 milhões com as que viviam ali. Putin e Erdogan tem se conversado, e há grande preocupação com uma possível crise humanitária se um escalonamento do conflito continuar ocorrendo.

Dia 05/03 está marcada uma conferência entre Turquia, Russia, Alemanha e França, para negociações sobre o conflito. Se a reunião acontecer, há quem acredite num recuo de Erdogan, dada a pequena chance de a Turquia e seus aliados sozinhos vencerem o conflito. Mas até lá, temos que ficar de olho no conflito.

Referências

Al Jazeera - 33 Turkish soldiers killed in Syrian air raid in Idlib

The Saker - Are Russia and Turkey on a collision course?

Asia Times - Putin keen to cool Turkish hawk down

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