Ícaro, Vasco da Gama e o Tricolor

Na terceira rodada do Campeonato Brasileiro 2020/21, era possível ver o Vasco da Gama figurando como líder. Efusivos elogios eram feitos ao surpreendente Ramonismo, que estava muito apoiado no atacante argentino Germán Cano, com uma precisão impressionante. Era uma chance e um gol.

Entretanto o brilho do Vasco era vidro e se quebrou: uma sequência de seis derrotas _ incluindo eliminação na Copa do Brasil _ derrubaram o Vasco para a 9º posição, e caiu o treinador Ramon Menezes após uma goleada sofrida por 4 a 1 contra o Galo mineiro.

Se pensarmos que hoje o Vasco está na beira da zona do rebaixamento _ a tal "zona da confusão", termo cunhado pelo novo velho treinador V. Luxemburgo _ não parecia que o trabalho de Ramon, apesar da queda de desempenho, fosse tão ruim assim.

Porém, o treinador cometeu um pecado mortal: assim como Ícaro, quis voar muito perto do sol... Deixou a torcida, que já sofre há muitos anos com crises e tragédias, sonhar. Essa expectativa criada, e não cumprida, foi encarada como alta traição, uma profunda decepção.

Outro clube, o Tricolor paulista, parece que vive uma tragédia parecida.

O clube, que se autonomeou Soberano, devido as muitas conquistas das décadas de 1990 e 2000, passa por um grande período de jejum de títulos. Sem contar a Copa Sul Americana de 2012 _ que ainda não era considerado um torneio importante, além da forma como acabou, com o adversário abandonando o jogo no intervalo _ o clube não conquista um título desde 2008, que foi o último Campeonato Brasileiro da sua incrível sequência do tricampeonato. Nem um paulistinha há nesse longo período, porque o último conquistado foi em 2005 _ numa fórmula de pontos corridos.

No jogo de ontem (20/01) contra o Internacional, tomou um sacode 5 a 1, em pleno Morumbi (vazio), perdeu a liderança para o mesmo Colorado, depois de ter liderado o campeonato por 10 rodadas e ter conseguido atingir uma diferença de 7 pontos para o segundo colocado _ posição disputada entre Flamengo e Atlético.

O São Paulo na temporada já amargava eliminações para o Mirassol _ escalado via What's App _ no Paulista; uma derrota para o fraquíssimo Binacional (Peru) que custou sua classificação na Libertadores; e uma eliminação com gol no final, em casa, para o Lanús na Sulamericana _ o time argentino, é bom lembrar, estava parado praticamente havia 6 meses, devido a pandemia.

Apesar de todo esse cenário, ruim o suficiente, o time que sempre se mostrara instável, começou a demonstrar evolução, e de forma impressionante eliminou o ídolo e treinador Rogério Ceni duas vezes, comandando Fortaleza e Flamengo, na Copa do Brasil, chegando a semifinal contra o Grêmio; no brasileirão, conseguiu uma sequência de vitórias aliadas a um bom futebol que o levaram à liderança com folga.

(Nesse cenário pandêmico é importante registrar também que o tricolor até então é uma das únicas equipes que ainda não teve surto de covid-19. Poucos atletas se machucaram, e pelo menos no Brasileiro tem apenas um cartão vermelho, e é o terceiro clube com menos amarelos _ só Grêmio e Atlético tem menos cartões amarelos que o Tricolor paulista.)

O Tricolor passava a ser cotado por muitos como favorito ao título Brasileiro, e de quebra poderia levar a Copa do Brasil. Na realidade, parece que tanto fazia, o importante era sair da fila. Depois de muitas desconfianças parecia que o Dinizismo(-Alvismo) iria finalmente decolar! O sonho estava posto à mesa, as expectativas foram criadas...

Há quem saiba que a realidade não liga muito para as nossas expectativas. Ela é possível de ser transformada, mas não em condições em que escolhemos. E quando falamos de disputa, enfrentamento de forças, não basta que apenas um lado ache que está tudo ganho, hay que pelear!

E o Tricolor, que assim como o Vasco, com suas asas de cera voou próximo demais do sol, em menos de um mês foi eliminado da Copa do Brasil pelo Grêmio, e perdeu a liderança para o outro gaúcho, esse colorado, com pífias derrotas também para Corinthians, Bragantino, Santos e um empate com o Athlético.

O Dinizismo parece que cometeu o mesmo crime do Ramonismo: em meio a tantas eliminações e instabilidade, ainda permitiu que todos sonhassem. E agora, se não cumprir com tais expectativas, sofrerá duras conquências, que podem causar sérios prejuízos para sua carreira inclusive. O treinador parece sentir a pressão, e o casamento de sua fila pessoal _ o treinador não tem título nenhum na carreira _ com a fila do clube parecem que tornam as coisas ainda mais dramáticas. É visível o nervosismo e um certo comportamento de luto, desde a eliminação na Copa do Brasil. No futebol tudo é possível, mas neste momento está difícil acreditar que o Tricolor possa se recuperar do baque. 

Há ainda 7 rodadas pela frente, 21 pontos estão em disputa, e matematicamente o título ainda é possível, e esse texto pode se tornar anacrônico e descartável daqui há alguns dias. Mas, essa é uma análise de conjuntura futebolística, e elas podem se permitir esse caráter fugaz.

Referências

UOL - Técnico Ramon Menezes é demitido do Vasco

CBF - CAMPEONATO BRASILEIRO DE FUTEBOL - SÉRIE A - 2020

(Acesso em 21/01/2020)

ESPN - Estatísticas - Cartões - Brasileirão - Série A - 2020-21

(Acesso em 21/01/2020)

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