Palmeiras: Abel, da humildade a frustração


Campeão!

Há algumas semanas atrás, estava começando a escrever um texto para falar sobre a declaração do técnico da Sociedade Esportiva Palmeiras, Abel Ferreira, dada após o jogo de volta pela Copa Libertadores contra o River Plate _ aquele terrível 2 a 0 para os argentinos, na Casa Verde. O técnico de forma humilde reconhecera que seu rival era melhor que ele, tanto o técnico quanto a equipe.

No dia confesso que fiquei mais surpreso com a reação das pessoas da imprensa àquela demonstração de humildade, talvez, sinal dos tempos que vivemos, de individualismo e egos volumosos.

Mas a declaração de Abel não era mera demonstração de humildade, era uma constatação da realidade. O River era de fato melhor, e não de hoje, há anos vem fazendo um excelente trabalho, o que o credenciava como melhor time do continente americano da década.

Passado o River, veio à final contra o Santos, e o título tão ansiado desde 1999 veio: Palmeiras bicampeão da Libertadores!

O jogo foi ruim? Foi, horrível. Dizem esses filósofos do futebol, que o medo de perder tira a vontade de vencer, e foi o que se viu no Macaranã (onde não haviam torcedores, mas segundo a Conmebol, "convidados"): dois times com medo de perder. Vinte e dois homens, comandados por outros homens, com medo da derrota. Poucos chutes no gol, poucos dribles e muita covardia. 

No fim, o futebol, esse esporte maravilhoso, premiou o time que se arriscou menos. Coisas dele...

Bom, o torcedor nada tem a ver com isso. Comemoração efusiva! Alguns ainda enclausurados comemorando dentro de suas casas, outros dando de ombros para o coronavírus _ sim, ele ainda está no meio de nós _ e saindo as ruas para celebrar tamanha alegria, que ganha contornos gigantescos, dado o cenário de desgraça vivido por estas terras.

O mundial

Desde 2005, o campeão da Libertadores ganha uma passagem para o campeonato mundial da Fifa, onde se junta aos demais campeões continentais. Os favoritos costumam ser, o time sulamericano, e um desinteressado time europeu, campeão do torneio de clubes mais competitivo do mundo, a Liga dos Campeões da Europa (Champions League).

O alemão Bayern de Munique, deu uma passada rápida no Catar, venceu seus dois jogos, sem fazer muito esforço, levou o caneco e voltou embora para compromissos mais importantes. O Palmeiras de forma decepcionante não conseguiu fazer um gol sequer em dois jogos, contra um time mexicano e outro egípcio, e ficou em quarto lugar.

Não deixa de ser uma maldade que uma alegria tão grande quanto vencer a Libertadores, seja roubada dias depois com a derrota em outro torneio. Mas geralmente os times não-europeus, têm-se acostumado com uma espécie de troféu moral de consolação: "demos trabalho para eles", "pelo menos não fomos goleados", e algo nessa linha. E não é de todo sem sentido, uma vez que os europeus, com seu poder financeiro, arrancam todos os bons jogadores de onde quer que eles surjam na face da Terra, e colocam em seus times, que se tornam verdadeiras seleções transnacionais. O poder do dinheiro pode não garantir vitória em todos os jogos, mas te dá a chance de estar mais próximo dela em todos eles.

Abel, Abel...

Depois do vexame palmeirense _ não tem outro nome para o que o time realizou _ Abel em entrevista surpreende novamente, mas dessa vez, de forma negativa, mostrando uma análise completamente fora da realidade:

Foi um jogo equilibrado hoje. Juntaram-se aqui (no Catar) as quatro melhores equipes do mundo. Qualquer um podia marcar. Fomos aos pênaltis, e aí foi a competência de quem defende contra a defesa de quem ataca

Os quatro melhores times do mundo... Abel, Abel, em que mundo estás vivendo gajo?

Esse tipo de declaração parece muito com a de um treinador que, ao perder um jogo de 4 a 2 _ sendo que no primeiro tempo estava perdendo de 3 a 0 _ diz que o time venceu o segundo tempo por 2 a 1...

Eu tenho dúvidas às vezes, para entender, se de fato esses estudiosos do futebol acreditam nisso que estão falando, ou se tentam tanto defender seus atletas, que acabam tendo que distorcer a realidade para conseguir achar o lado positivo de algo. Por que quem vê de fora, a não ser que seja um fanático cego, sente que tem sua inteligência ofendida.

E mesmo assim, é algo que me preocupa, porque o treinador precisa contar uma mentira tão descarada para defender seus atletas? Defender do que, da realidade? Esses profissionais, adultos, que ganham milhares em dinheiro, não podem aceitar que pouco jogaram (seja por qual motivo for) e que fracassaram?

Entendo que fracassar de forma retumbante, depois de criar grandes expectativas, seja algo muito triste e devastador. Mas da mesma forma que o treinador reconheceu, num momento de classificação, que seu adversário era melhor, não faria mal nenhum, em reconhecer que pouco tem conseguido fazer evoluir sua equipe, e isso levou ao fracasso recente.

Mas fracassaram agora, e podem voltar a vencer depois. É assim no futebol, é assim no esporte, é assim na vida.

Referências

ESPN - Abel Ferreira, do Palmeiras: 'Entre os quatro melhores do mundo, acabamos em 4º, temos que aceitar'

ESPN - Libertadores: Diniz elogia jovens em 2º tempo do São Paulo: 'O time no 2º tempo ganhou de 2 a 1'

G1 - América do Sul é verde – Palmeiras Campeão da Libertadores 2020

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