Superliga de clubes ricos é só o capitalismo

O assunto da última semana no mundo do futebol, foi o anúncio da criação e do fim da Superliga Européia de Clubes. Sim, mal surgiu a liga, e ela acabou dias depois.

Os bonitões que se ajuntaram foram: Espanha: Atlético de Madrid, Barcelona, Real Madrid; Inglaterra: Arsenal, Chelsea, Manchester City, Manchester United, Liverpool, Tottenham; Itália: Inter de Milão, Milan, Juventus.

A ideia era fazer uma espécie de Master Liga do Winning Eleven (se bem que até a Master tem duas divisões com acesso e descenso), de clubes autointitulados grandes _ com alguns clubes de fato com grandes trajetórias no futebol, e outros nem tanto assim, mas todos unidos pela força da grana.

Torcedores e jornalistas do mundo todo levaram a questão para o lado moral, considerando a iniciativa como "gananciosa", "capitalismo selvagem", xingando vários dirigentes _ Florentino Pérez principalmente _ e argumentando, ingenuamente eu diria, sobre o quanto estes triliardários estariam desprezando questões esportivas ditas relevantes.

A iniciativa não é nova, e ainda que tenha fracassado no momento, provavelmente não está morta. Há um grupo de clubes que das mais variadas maneiras (grande número de torcedores / clientes no mundo, aportes milionários de mecenas e grupos de investidores, etc) conseguiram se distanciar demais financeiramente dos seus concorrentes, monopolizando os craques e os títulos a nível nacional e continental.

Basta dar um olhada nos últimos campeões das ligas na Itália, na Espanha, na Alemanha, na França... praticamente os mesmos. As equipes destes países, se tornaram verdadeiras seleções transnacionais, muito melhores do que qualquer escrete nacional. Os times mais ricos vão fazendo a rapa nos destaques dos rivais nacionais, enfraquecendo-os, além de fazer a festa na América Latina e África, onde a economia do futebol é um mero reflexo de suas economias: subdesenvolvidas e dependentes, orientadas para exportação, seja de arroz, soja e minérios, ou seja de jogadores de futebol.

Ainda que haja certamente um componente político na disputa contra a Fifa e a Uefa _ duas organizações corruptas, importante lembrar _ esse movimento é inevitável, se considerado a lógica do sistema capitalista, orientado sempre para o lucro, e acima de qualquer valor esportivo.

Como negócio rentável que é, e que possibilita inclusive uma corrupção monumental, com a conivência de todas as nações, é uma tendência que clubes de bilionários se juntem, para tentar explorar mais ainda o mercado do futebol, e assim monopolizá-lo cada vez. O capitalismo tende ao monopólio, com o futebol dentro deste sistema, não será diferente.

Talvez tenha sido um jeito de pressionar os atravessadores _ a Uefa e a Fifa _ a diminuírem seus lucros, em detrimento dos 12 clubes, mas também pode ter sido um teste, para ver a aceitação dentro do mercado, e quem sabe em breve, de uma forma mais organizada e agressiva, se aproveitando da crise econômica e enfraquecimento dos rivais, tentem novamente essa via.

Se realmente houvesse uma preocupação com a competitividade entre os clubes, o tal fator esportivo, vários dispositivos para impedir que estas desigualdades acontecessem, seriam implantados pelas ligas. Mas é exatamente o contrário que acontece: mais e mais incentivos são dados, várias regras são "flexibilizadas" para atender interesses econômicos diversos que foram aos poucos, permitindo a situação que vemos atualmente.

O tal capitalismo selvagem no fim, é apenas o capitalismo mesmo, em seu pleno funcionamento.

É admirável ver os protestos contra a tal Liga, mas não se pode perder de vista que dentro do sistema econômico vigente, ela estará sujeita a lógica da mercadoria e do lucro, a mesma lógica que submete a todos nós trabalhadores todos os dias, e não há amor pelo esporte que mude isso. O que muda é a luta política e o enfrentamento a esse sistema.


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