O copo Stanley e os héteros top

 


Para você que anda meio fora das últimas tendências, talvez eu precise explicar o que é o tal do copo cuja marca consta no título: é um copo que garante manter estável a temperatura da sua bebida por até seis horas. Ou seja, quem curte um chopinho trincando pode ficar tranquilo, que o beberá gelado do início ao fim.

E por que raios isso é um tema de discussão?

Bom, o tal copo custa mais de 200 conto, ou seja, cerca de 20% de um salário mínimo em 2022. E isso o torna um bem de luxo para maior parte da população brasileira. Bem de luxo e um tanto desnecessário, até porque, convenhamos, ninguém leva seis horas para beber uma cerveja _ e ainda que levasse, a qualidade dela iria cair muito.

O tal copo virou moda, e no último verão foi comum ver certos indivíduos ostentando o tal produto.

E quais indivíduos eram esses em sua maioria? Os tais héteros e héteras top.

E quem são essas pessoas? Onde vivem? O que comem?

Voltemos um pouco no tempo ...

Nos idos de 2010, era comum que homens héteros de classe média, média alta, usarem o termo “top”, como sinal de algo bom. O termo ficou mais evidente depois de um tweet do menino Neymar JR, ainda em 2010, dizendo “Deus é TOP”. O termo tinha variações como “topzera” e “topíssimo”.

Uma galera começou a perceber quem usava o tal termo, e começou a usá-lo como uma forma de ironizar esse pessoal. Nem é preciso dizer, que essa ironia ajudou a popularizar o termo, porque muita gente mesmo não gostando, mas mais de sacanagem, acabou incorporando-o no seu vocabulário _ como este que vos escreve.

Como qualquer novo estereótipo, não é tão fácil traçar um perfil, até porque, estereótipos dão uma ideia superficial de como grupos humanos funcionam, e não quer dizer que seja uma descrição exata da realidade.

Essas pessoas, em sua maioria, heterossexuais (e depois falo dessa aparente contradição), brancos, e de classe média, são conhecidas por terem uma forma de consumo elitizada e exclusivista: usam roupas de marca da moda _ por isso é comum vê-los vestidos de forma parecida _ vão nas festas badaladas, nas academias mais famosinhas, costumam andar em grupo, adoram uma rede social para postar suas selfies dos rolês com a galera _ se tiver um camarote vip, para eles melhor _ e claro, curtem umas hamburguerias gourmets e um sertanejo universitário.

Engraçado que enquanto penso na descrição, me vem a cabeça que estes grupos de pessoas descoladas e popularzinhas, sempre existiu. Os comportamentos não são muito diferentes, mas os gostos são, até porque, as coisas vão mudando na sociedade.

Como eu disse anteriormente, não quer dizer que sejam todos heterossexuais. Tem pessoas de outras orientações que também compartilham do mesmo comportamento, mas como a maioria são heteros, então, ficou o termo assim mesmo. E não quer dizer que sejam todos de classe média. Pode ter gente que emula esse comportamento, nem que para isso seja necessário entrar no cheque especial.

Nesse sentido, os heteros top, são uma espécie de campo social (e nicho de mercado), e como todo campo, tem seus comportamentos, rituais, objetos e símbolos. E aqui que entra o tal do copo Stanley, que passou a ser um produto de sua preferência, para ostentar uma bebida gelada por mais tempo. E para quem tem grana, pagar mais de 200 conto num copo não é nenhum constrangimento. Aliás, como item de luxo, é quase que um orgulho ter tal mercadoria, e tal sentimento fica claro nas redes sociais, com esse povinho ostentando o tal copo.

Eu aqui continuo achando um absurdo pagar tudo isso num copo. Tivesse um copo de uns trinta reais, que conservasse a temperatura em torno de uma hora, eu já estaria mais que satisfeito, ainda que provavelmente só o usaria na praia ou em um rolê aberto, com muito calor.

Postar um comentário

0 Comentários