No último dia 29/12, aos 82 anos, nos deixou Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé.
Pelé que foi o maior jogador de futebol da história, foi um dos principais responsáveis por popularizar o futebol no mundo, e mais do que isso, associar a imagem do Brasil ao futebol bem jogado. Além disso, tornou o número 10 da camisa, mais do que um simples número, tornou-o sinônimo de excelência, e hoje, todo jogador mais técnico de um time, veste a 10.
Poderia fazer um texto imenso, quase uma monografia para descrever os feitos do Rei do futebol, mas o assunto aqui é outro.
Nesta semana, durante os cortejos fúnebres na cidade de Santos, havia milhares de pessoas nas ruas, que esperaram horas para ter a chance para se despedir de Pelé. Mesmo com tanta gente, percebeu-se que muitos jogadores e ex-jogadores importantes, não estavam lá, para prestar as últimas homenagens ao Rei do futebol.
Entre as muitas ausências percebidas, uma chamou a atenção que foi do ex-jogador (e hoje empresário) Kaká, que há algumas semanas, estava reclamando da falta de reconhecimento aos ídolos do país. (Bom, ninguém pode reclamar que ele tenha sido incoerente). Além do ex-jogador já citado, nenhum outro participante do elenco do pentacampeonato, nem do tetracampeonato (exceto Mauro Silva) esteve presente no velório. Citando um dos atletas da atualidade, Neymar, que sempre viaja para fazer festinha de fim de ano, mandou o pai em seu lugar.
Mas talvez apontar essas ausências seja um pouco injusto, porque muitos deles postaram homenagens sinceras pelo instagram.
De onde menos se espera...
Gosto daquela frase do Barão de Itararé que diz "de onde menos se espera, daí é que não sai nada".
Por um lado, é muito fácil cobrar uma consciência histórica desses atletas, uma vez que uma parcela deles, se tornaram milionários, alguns inclusive comprando times de futebol. Mas sabemos, que geralmente a única coisa que as pessoas endinheiradas têm, é dinheiro. E particularmente no caso de jogadores de futebol que enriqueceram, o buraco é mais embaixo.
Muitos dos atletas formados no Brasil acabam tendo que escolher entre estudar ou jogar futebol, tendo uma formação que está aquém da média nacional. Como sabemos, manter a classe trabalhadora na ignorância, é o projeto de educação da burguesia brasileira, facilitando assim sua dominação. Então se o nível de educação formal e de consciência crítica é baixo para a população em geral, imagina para estes potenciais atletas que tem que escolher entre estudar ou seguirem com suas carreiras.
Um outro dado importante, é a ideologia que vai formando estes atletas. A maioria deles saem da pobreza, e conforme vão conseguindo progredir na carreira, a impressão que fica é que eles venceram sozinhos (ou "graças a deus", como irritantemente eles gostam de repetir), o que de certa forma, não é mentira. Se dependesse do Estado, muitos deles continuariam na pobreza.
Só que essa forma de pensar, não ajuda a criar uma consciência coletiva, e sim individualista. "Eu venci, contra tudo e contra todos". Como esperar que pessoas que pensam assim, terão algum tipo de sentimento de solidariedade com os seus?
Não estou dizendo que eles não devam ser cobrados, mas digo que o problema é mais profundo. Passa pela educação, pela cultura, pelo incentivo a consciência crítica, pela valorização da memória e dos nossos símbolos nacionais... como o Pelé.
Como esperar que as próximas gerações mantenham vivas essas lembranças, se ainda hoje, nem a média da população é capaz disso?
Talvez tenha alguma razão aqueles que dizem que não valorizamos nossos ídolos suficientemente, mas e esses que reclamam, de que lado estão? Do poder popular? Da melhoria da vida do povo como um todo, ou ao lado de dirigentes da FIFA, empresários e de pastores corruptos que exploram esse mesmo povo?
Links
GE - Graduados da bola: apenas 15 atletas da Série A alcançam ensino superior
https://ge.globo.com/futebol/brasileirao-serie-a/noticia/2016/06/graduados-da-bola-apenas-14-atletas-da-serie-alcancam-ensino-superior.html
UOL - Kaká critica brasileiros: 'Ronaldo é só mais um gordo andando pela rua'
https://www.uol.com.br/esporte/futebol/copa-do-mundo/2022/12/08/no-brasil-ronaldo-e-so-mais-um-gordo-andando-pela-rua-critica-kaka.htm
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