Oitavo dia da greve dos caminhoneiros



Filas enormes nos postos de gasolina, que nem deixam os preços a vista mais _ para ficar mais fácil “flexibilizar” os preços. Produtos perecíveis ficando mais caros nas gôndolas do supermercado. Animais morrendo por falta de alimento. Hospitais com falta de remédios e insumos. Pessoas tendo seus veículos depredados por zumbis em busca de combustível. Ruas vazias. Municípios decretando estado de emergência. Torcida pelos caminhoneiros, que deixaram o presidente golpista de joelhos. Alguns imbecis pedindo intervenção militar. Mais pessoas andando a pé e de bicicleta. Assunto da segunda feira não era o campeonato brasileiro, e sim a greve, e as suas consequências na vida de cada um.

Confesso que esperava ouvir mais questionamentos, como porque somos tão dependentes das rodovias. Porque o quinto maior país do mundo em extensão territorial não tem uma malha ferroviária a altura? Porque dependemos tanto do petróleo _ que além dos combustíveis, derivam centenas de outros produtos.

Algumas das “novas” experiências vividas pelos brasileiros, poderiam suscitar outros questionamentos, como nos investimentos do setor público em lazer e mobilidade urbana. Quem tirou a bicicleta empoeirada da garagem, ao pedalar, deve ter percebido que a cidade lhe é hostil, que ela não oferece a devida segurança e facilidade _ bicicletários, por exemplo. Quem descobriu que no quarteirão de trás de casa, havia uma pracinha, com banco quebrados, árvores mal cuidadas, grama alta, lixo e cocô de cachorro no chão, deve ter se perguntado porque aquele espaço é tão mal cuidado. Quem precisou pegar um ônibus pela primeira vez na vida, deve ter se perguntado porque aquela lata chacoalha e range tanto. Deve ter ficado assustado com a placa “Lotação: 40 pessoas sentadas, 30 de pé”, e em seguida ter virado o pescoço como coruja e se perguntar “cabem 70 pessoas nessa lata de sardinha?”. Não amigo, cabem mais!

O comércio local foi uma das descobertas feitas pelos brasileiros. Aquele mercadinho de esquina, a padaria do seu Manoel, o Boutique da Maria e a horta do seu João. Custam um pouco mais caro que as grandes redes de supermercado? Sim, custam, até porque a quantidade de clientes é menor. Mas será que se o comércio local não for mais valorizado, ele não pode melhorar a própria região?

Há quem diga que no minuto após o fim da greve, o brasileiro virará a chave e tudo cairá no esquecimento _ lembrando que não é a primeira vez que uma paralisação dessa acontece no país. Talvez até faça sentido acreditar nisso quando lembramos do nosso passado colonial e escravagista, quando temos mais de 50.000 mil homicídios por ano, na subserviência da classe média / alta ao grande irmão do Norte, do nosso ódio pelo pobre e pelos sucessivos golpes de estado que observamos em nossa história quase que inertes. Com um histórico desse, é difícil mesmo ter autoestima elevada.

O chato de começar a envelhecer, é que as histórias vão se repetindo e sempre fica aquela sensação de dejà vu, aquele sentimento perante aos filmes hollywoodianos, que sempre sabemos o final. A descoberta de que as utopias são de fato utopias, são similares ao desapontamento e dor das crianças ao descobrirem que [Spoiler alert] papai noel ou coelhinho da páscoa não existem.

Mas se o suicídio não é uma opção para essa vida sem sentido, que a revolta seja! Lutar por sentido, numa vida sem sentido, é o melhor que podemos fazer. Olhar para essa sociedade vil e injusta e entender que “não precisa ser assim”, e que sim, ela pode ser diferente, é o melhor que podemos fazer, ou a única coisa que nos resta a fazer…

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