Sei que nos dias de hoje se cobra muito a tal da
produtividade, viver parece que se baseia em estar sempre produzindo algo _
geralmente para terceiros. Há quem diga que além da exploração do patrão sobre
o trabalhador, há uma exploração de si para si, a tal da autoexploração.
Mais ou menos nesse tema, acabei de me deparar com uma
imagem na rede social que mais detesto, o linkedin, que ilustra um pouco dessa
ideologia detestável
Perceba as cores dos círculos, elas vão do vermelho, passam
pelo laranja, amarelo até o verde, indicando uma evolução que vai da Zona de
Conforto (a pior) até a Zona de Crescimento (a melhor).
(Antes de qualquer coisa, “extender” está escrito errado, é
com “s”).
Esses jargões do mundo corporativo fazem parte da ideologia
do mercado, do mundo do capital, que tenta justificar sua exploração criando
falsas ideias que enganam os trabalhadores, não os fazendo ver que todas essas
bobagens só servem para que estes não vejam que, como e quanto são explorados.
Muitas pessoas até sabem disso tudo, mas por causa da
necessidade, tentam se encaixar de tudo quanto é jeito e acabam abrindo mão do
senso crítico no caminho. E essa falência do senso crítico dá espaço para mais
ideologia de quinta categoria, como essa da imagem, da tal zona de conforto.
Ação ou efeito de
confortar, de demonstrar solidariedade nos momentos de aflição ou de
infortúnio; consolo, consolação; Tudo o que constitui o bem-estar material:
gostar de viver no conforto; Estado da pessoa que se sente confortado,
aliviado: encontrou conforto na música. / Zona de Conforto. Expressão que
indica uma série de situações favoráveis, geralmente relacionadas com
estabilidade afetiva, financeira, ou com algo que alguém faz por costume.
A descrição acima, tirada de um dicionário online, nos
coloca o significado da palavra CONFORTO e alguns de seus usos. O conforto é um
valor, e os valores não têm valor em si mesmo, ou seja, nada é inerentemente
bom ou ruim, os valores para terem algum sentido precisam ser atribuídos a
algo. Uma pessoa pode estar confortavelmente nua deitada numa rede, ou pode
estar confortavelmente vestida dentro de uma cela na prisão.
A mesma leitura pode ser feita para a tal zona de conforto.
Na imagem que surrupiei da internet, a zona de conforto é mostrada no menor
círculo com o fundo vermelho, como se estar nessa zona fosse algo
necessariamente ruim. Ou seja, meus caros e caras, estar de boa é ruim! Bom
mesmo é assumir riscos, quebrar a cara, ser resiliente e quebrar de novo até
crescer _ como um osso.
Não é que o texto esteja completamente errado, a questão é a
premissa da qual ele parte: estar na zona de conforto, estar de boa, é
necessariamente ruim. E como eu disse acima: nada é necessariamente bom ou
ruim.
Se a pessoa está em um emprego que gosta, fazendo o que
gosta, no tempo e com gente que suporta, ganhando o que considera ser o
suficiente para suas necessidades básicas e seus luxos, por que raios ela teria
que achar que sua vida está ruim só porque ela se sente confortável?
Agora, num outro caso completamente contrário do anterior aí
faria sentido essa pessoa se perguntar por que ela não toma uma atitude, e
tenta sair dessa zona de conforto, até porque, por mais que ela esteja no
controle da situação, talvez não esteja tão confortável assim afinal.
Esse tipo de ideia só ajuda a criar uma eterna ansiedade por
mudanças, e não câmbios significativos, necessários, mas câmbios vazios. E aí
vem a pergunta nietzschiana: A quem isso interessa?
Bom, no caso de quem postou, uma escola que vende cursos
profissionalizantes online, é de total interesse criar nas pessoas essa
ansiedade constante, esse estado geral de descontentamento, de
autoinsuficiência.
Você conquistou tudo o que queria na vida e está se sentindo
satisfeito?
SAIA DA ZONA DE CONFORTO E COMPRE NOSSOS CURSOS!!!!
Vivemos na sociedade da exploração, da produção e do consumo,
e a criação desse descontentamento é bom para os negócios. Afinal, a roda da
economia precisa girar e nos moer no processo, não é?!
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