Vieses Cognitivos

Machine of Myster...

Tradução minha (e alguns comentários inconvenientes) do link: Superlist - The 12 cognitive biases that prevent you from being rational, de George Dvorsky, Io9.com.

[Viés é utilizado para expressar o sentido de parcialidade, onde uma análise é feita de maneira tendenciosa, baseadas não em evidências, mas na percepção pura e simples que a pessoa tem de uma situação. A palavra Biais é de origem francesa, e em inglês se escreve bias _ sem o último "i"].

O cérebro humano é capaz de 10e16 processos por segundo, o que o torna mais poderoso do que qualquer computador do mundo atual. Mas isto não quer dizer que ele não tenha limitações. Uma pequena calculadora pode calcular muito melhor do que nós, e algumas de nossas memórias são inúteis _ somado a isso, estamos sujeitos aos vieses cognitivos, que são falhas no nosso pensamento que nos fazem tomar decisões questionáveis e chegarmos a conclusões erradas. Aqui estão uma dúzia destes erros cognitivos mais comuns e perniciosos.

Antes de começarmos, é importante distinguirmos entre os vieses cognitivos e falácias lógicas. Uma falácia é uma falha de raciocínio (ataque ad hominem, declives escorregadios, argumentos circulares, apelo à força e etcetera). Um viés cognitivo, por outro lado, é uma deficiência genuína ou limitação do nosso pensamento - como um erro de julgamento causado por uma falha de memória, atribuição social ou erro de cálculo (como erro estatístico ou um falso senso de probabilidade).

[A falácia do Ataque ad hominem é aquela em que o ataque é feito contra o argumentador, e não contra o argumento.

Por exemplo: eu digo para alguém que sou a favor das cotas raciais, e essa pessoa ao invés de atacar meu argumento, tenta me desqualificar: "você é um idiota... você só fala isso porque você é negro... você quer dar uma de bonzinho".

Ele falou, falou, mas não disse por que ele é contra. Algo amplamente comum por aí, na internet, vish, nem se fala lol.]


Alguns psicólogos acreditam que nossos vieses cognitivos nos ajudam a processar as informações de forma eficiente, especialmente em situações de perigo. Ainda assim, eles nos levam a cometer erros graves. Nós podemos estar inclinados a tais erros de julgamento, mas pelo menos podemos estar atentos a eles.

Viés de confirmação: Nós adoramos concordar com pessoas que concordam conosco. Por isso nós só acessamos sites que expressam nossa opinião política e andamos com pessoas que têm gostos parecidos com os nossos. Tendemos a nos distanciar de pessoas, grupos e noticiários que nos deixam desconfortáveis ou inseguros sobre nosso modo de ver as coisas _ o que o psicólogo do comportamento B.F. Skinner chama de dissonância cognitiva. É um modo preferencial de comportamento que nos leva ao viés de confirmação _ o constante ato inconsciente de referência apenas aquelas perspectivas que alimentam nossa visão pré-existente, enquanto ao mesmo tempo, ignoramos ou desconsideramos opiniões _ mesmo que válidas _ que ameaçam nosso ponto de vista. E paradoxalmente, a internet piora esta tendência.

Viés de grupo: Parecido com o viés de confirmação, é uma manifestação de nossa inata tendência tribalista. E estranhamente, muito disso tem a ver com a oxitocina, apelidada de "hormônio do amor". Este neurotransmissor, enquanto nos ajuda a fortalecer nossos laços com as pessoas de nosso grupo, faz exatamente o contrário com as pessoas fora deste grupo _ nos deixa com medo ou nos faz desdenhar os outros. Este viés nos faz superestimar as habilidades e valores de nosso grupo, mesmo que nós não as conheçamos realmente.

Falácia do Apostador: Tendemos a dar peso enorme em eventos passados, acreditando que eles afetarão eventos futuros. O exemplo clássico é o cara e coroa. Depois de tirar cara, digamos, umas 5 vezes seguidas, começamos a achar que as chances de virar cara, são maiores, quando na verdade a chance de tirar cara ou coroa, ainda é de 50%.

Existe o viés do pensamento positivo, que frequentemente alimenta o vicio da aposta. É a sensação que nossa sorte mudou e agora tudo será melhor. Isto contribui para o conceito errôneo de "mão boa". É a mesma sensação que temos quando começamos um novo relacionamento, de que tudo será melhor que antes.

[Lembre-se: Apostador nunca perde, ele quase ganha].

Racionalização pós-compra: Lembra-se daquela vez que comprou algo completamente desnecessário, errado ou muito caro e depois de pensar um pouco, se convenceu que aquela foi uma boa compra?

Os bichinhos sofriam disso... pobrezinhos =/
Pois é, este é o ato de racionalização pós-compra, um tipo de mecanismo que nos faz sentirmos melhor depois de uma decisão IDIOTA. Também é conhecida como Síndrome de Estocolmo do Comprador, é um modo subconsciente de justificar nossas compras _ principalmente as mais caras.

[Síndrome de Estocolmo é quando a pessoa sequestrada sente algum tipo de afeição por quem a sequestrou].

Psicólogos dizem que isto vem do princípio do compromisso, nosso desejo psicológico de ser consistente e evitar uma dissonância cognitiva.

[Dissonância cognitiva se refere ao conflito entre duas ideias, crenças ou opiniões incompatíveis. Exemplo disso seria você ter vontade de comprar algo e não ter dinheiro para fazê-lo. Para dirimir esta dissonância (este conflito), você diz para si mesmo que você não quer aquilo, não precisa tanto assim, que pode esperar ou qualquer outra coisa que te faça sentir-se melhor com sua decisão].

Viés Atencional: Poucos de nós têm problema de dirigir carro, mas muitos tremem ao estarem em um avião a centenas de metros de altura. Voar, obviamente é uma atividade não natural e aparentemente perigosa. Mas sabemos que a probabilidade de morrer em um acidente de carro é muito maior do que morrer em um acidente de avião, mas nosso cérebro não nos liberta para a lógica. É o mesmo fenômeno que nos faz termos medo de morrer em um ataque terrorista, mais do que uma ocorrência mais corriqueira, como cair da escada ou morrer envenenado.

É o que o psicólogo Cass Sustein chama de negligenciar probabilidades _ nossa incapacidade de compreender adequadamente os riscos _ isto nos leva a exagerar os riscos de atividades inofensivas enquanto nos faz subestimar as mais perigosas.

Observação Seletiva: É o efeito repentino de começarmos a perceber coisas que não percebíamos antes, e afirmarmos que a frequência que vemos tais coisas, aumentou.

[Exemplo disso foi o que aconteceu comigo estes dias. Minha mãe comprou um Ford Ka (caindo os pedaços) e depois de rodar um pouco mais com ele, percebi quantos Kas têm por aí, cada dia parece que tem mais em todo o lugar].

Mulheres grávidas percebem mais mulheres grávidas, ou, homens com medo da namorada estar grávida _ porque a menstruação está um mês atrasada _ começam a reparar em grávidas em todo o lugar. HAHA!
Eles estão em todo lugar Oo'

Não é que a frequência de tais eventos aumentou, é que algumas imagens ficam selecionadas (tipo em destaque) em nossa mente (por qualquer razão), e por estarmos com aquilo na cabeça, achamos que estamos vendo mais vezes tal evento.

O problema é que a maioria das pessoas não reconhece isso como um viés de observação, e de fato acreditam que estes fatos passaram a ocorrer mais vezes. Isto contribui com a sensação de que certos eventos não poderiam ser mera coincidência _  e normalmente são.

[Seria a mesma que eu acreditasse que o número de Kas nas ruas de Americana aumentou depois que eu passei a rodar com um. Ou você ver uma estrela cadente e dizer que depois que você viu a primeira vez, passaram a passar mais no céu, mas, o que aconteceu é que você (talvez inconscientemente) passou a reparar mais no céu].

Deixe estar como está...
Status-quo: [Status quo é uma expressão do latim que tem o sentido de: "o estado atual das coisas". Quando tu ouve alguém dizendo que quer manter o status quo, a pessoa quer dizer que pretende manter as coisas tal como elas estão]

Nós humanos temos medo da mudança, quando somos levados a tomar alguma decisão, normalmente escolhemos a que menos mude alguma coisa. Este tipo de atitude acaba se refletindo na nossa rotina diária onde acabamos por frequentar os mesmos lugares, e num âmbito maior, influencia na política, na economia e etcetera.

Um dos problemas desse viés, é que assumimos que outra escolha será inferior, e piorará as coisas.

[Este viés justifica e muito o conservadorismo exacerbado de muitas pessoas _ digo exacerbado, porque mesmo os que não se consideram conservadores, tem vieses de status quo.

Em time que está ganhando não se mexe? Mas e em time que está perdendo?]

Negatividade: As pessoas prestam mais atenção as más notícias _ e isto não apenas por mera morbidez. Cientistas sociais teorizam que é por conta de nossa atenção seletiva, e dada uma escolha, percebemos as notícias ruins como sendo mais importantes ou profundas. Tendemos também a dar maior credibilidade para notícias ruins, talvez porque estamos desconfiados (ou entediados) de algo que diga o contrário.
Se pensarmos em termos de evolução, dar atenção para más notícias pode ser melhor para nossa adaptação do que dar ouvido as boas notícias (por exemplo: pegar uma maçã saborosa ou tomar uma mordida de onça?). Hoje em dia, corremos o risco de nos determos sobre a negatividade em detrimento de uma boa notícia. Steven Pinkler, em seu livro The Better Angles of Our Nature: Why Violence Has Declined [não achei título em português], argumenta que crimes, violência, guerra e outras injustiças estão em constante declínio, mas ainda as pessoas argumentam que as coisas estão piorando _ o que é um ótimo exemplo do viés de negatividade.

[Os jornais diários (tv ou papel) sabem disso, e normalmente veiculam notícias ruins para aumentar a audiência].

Efeito de arrasto ou oportunismo: [em inglês é chamado de bandwagon effect. Bandwagon é uma carroça ou vagão ou caminhão que carrega uma banda sobre ele _ você brasileiro: pense num trio elétrico no carnaval baiano Oo'].

Bandwagon é tipo isso aqui
Apesar de normalmente não estarmos conscientes disso, nós amamos ir na onda da galera. Quando a massa escolhe um vencedor ou um favorito, é quando nosso cérebro individualizado começa a desligar e entra uma espécie de "pensamento de grupo". Mas não precisa ser um grupo muito grande ou uma nação inteira; podem ser pequenos grupos, como a família ou até mesmo um grupo de trabalhadores de um escritório. O efeito de arrasto é o que normalmente causa comportamentos, normas sociais e memes que se propagam entre os grupos de indivíduos _ independentemente de evidências ou motivos. É por isso que muitas pesquisas de opinião são frequentemente maliciosas, por elas poderem guiar as perspectivas dos indivíduos como elas quiserem. Muito deste viés tem a ver com nosso desejo de nos adaptarmos e nos conformarmos.

[Resumidamente: é o viés do Maria-vai-com-as-outras].

Viés da projeção:
Estamos presos em nossas mentes 24/7, é difícil para nós nos projetarmos fora dos limites de nossa consciência e de nossas preferências. Nós costumamos a achar que a maioria das pessoas pensam como nós _ embora não haja justificativa para isto. Esta deficiência cognitiva normalmente leva para um efeito relacionado, conhecido como viés do falso consenso, onde tendemos a acreditar que não somente as pessoas pensam como nós, mas também concordam conosco. É um viés onde superestimamos como somos normais, e assumimos que existe consenso onde ele não existe. Além disso, pode criar um efeito em membros de grupos radicais que assumirem que mais pessoas concordam com eles ou uma confiança exagerada em prever o vencedor de alguma eleição ou jogo de algum esporte.

Viés do momento presente: Nós temos muita dificuldade em nos imaginarmos no futuro e alterar nossas atitude de acordo com estas perspectivas. Muitos de nós prefere o prazer do momento atual, enquanto deixa a dor para depois. Este viés é uma preocupação comum de economistas e pessoas da área da saúde. Um estudo em 1998 mostrou que ao fazer a escolha da comida para a próxima semana, 74% dos participantes escolheram frutas. Mas quando a comida a ser escolhida era a de hoje, 70% preferiam chocolate.

[Tomorrow... tomorrow... ].

Efeito de ancoragem: É uma tendência que temos de comparar e contrastar apenas uma quantidade de itens [mesmo que tenhamos outras informações a nosso dispor]. Você escolhe um valor ou número [não se sabe porque razão] e passa a usá-lo como padrão para comparar tudo o mais que surgir.

[Está relacionado com a primeiro impressão sobre um fato. Após termos esta impressão, todas as comparações posteriores são feitas a partir dela].

Por isso que em alguns restaurantes, o valor da entrada é muito alto, e depois eles colocam pratos mais baratos [para você ter a impressão que só a entrada é cara ou para você ter como base de comparação o primeiro preço _ você pode achar isso um tiro no pé pois pode espantar o cliente, mas não na realidade, a maioria das pessoas tem vergonha de sair do restaurante após entrarem _ mais ainda se forem muito bem atendidas].

That's all folks /o/

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1 Comentários

  1. Excelente material, possibilita um convite ao estudo e aprendizado sobre nós mesmos

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