Programar ou não programar, eis a questão.



Faz aproximadamente 8 anos que aprendi a programar, ainda estava na faculdade cursando Processamento de Dados, mas já ouvira falar dessa tal de programação muitos anos antes, quando alguns amigos faziam cursinho técnico de informática. Eles chegavam todos serelepes e me perguntavam se eu sabia como se trocava uma lâmpada.

“Ora… que tipo de pergunta era aquela? Claro que eu sabia! A resposta era a mais óbvia e simples possível: Você pega a lâmpada nova e coloca no lugar da lâmpada velha”.

O riso sacana vinha antes de uma resposta longa e curiosa: “Você pega a escada, coloca sob a lâmpada que vai trocar, pega a lâmpada nova, sobe na escada, desrosqueia a lâmpada velha, rosqueia a lâmpada nova, desce da escada, liga o interruptor, se funcionar, guarda a escada e joga a lâmpada velha no lixo, se não funcionar, busca outra lâmpada, sobe na escada...” era de um detalhismo irritante, mas como eu sou um tanto anormal, achei aquilo super divertido.

Esse foi meu primeiro contato com a programação, uma descrição de um algoritmo que faz troca de lâmpada. No entanto, por mais que eu me esforçasse para entender o que eram comandos, funções e variáveis, não conseguia ver naquilo qualquer conexão com um programa de computador.

O tempo se passou, e no cursinho estava buscando fazer alguma faculdade na área de humanas (jornalismo, história ou filosofia), mas fiquei sabendo do curso de Processamento de Dados e que era gratuito numa faculdade próxima de casa. Como não tinha nada a perder, acabei fazendo o vestibular, e para minha sorte _ ou azar _ acabei passando e entrando.

Foram quatro anos de alegrias, tristezas, nervosismos e surpresas. Eu costumo dizer que sai da faculdade não tendo certeza do que queria da vida, mas tendo certeza do que não queria _ hardware, sistemas operacionais e UML por exemplo.

Simpatizei com redes, banco de dados e com programação. Bom, redes eu perdi o encanto rápido, porque no fim das contas me pareceu que era uma espécie de hardware avançado, sabe? Crimpar cabos, configurar roteadores, placas de redes e impressoras não me pareceu algo tão agradável na vida real. Eu trabalhei em empresa de telecomunicações e sei que redes é muito mais que isso, mas de qualquer forma perdi o interesse.

Por fim, todos os quatro anos de faculdade pareciam ter sido uma grande perca de tempo. Mas a vida, como sabem, é uma caixinha de surpresas.

Num belo dia, quando era analista de suporte de internet, surgiu a necessidade dos analistas preencherem planilhas com informações detalhadas de cada atendimento realizado, para que um relatório fosse gerado e dele extraído informações como: principais problemas que chegavam no suporte; como estes problemas eram resolvidos; de que cidade eram e assim por diante.

Imagine: durante cada ligação (que durava em média 6 minutos), você tinha que preencher aproximadamente 20 colunas de planilha, com todas as informações consideradas relevantes para aquela ligação, sendo que eram mais de 40 ligações por dia. Era muito trabalhoso!

Eu olhava puto para aquela maldita planilha e pensava: “deve haver um jeito mais fácil de fazer isso”. Percebi que na planilha existia uma série de informações que se repetiam, além de um problema recorrente na hora de tirarem o relatório: cada um escrevia uma mesma informação de um jeito diferente, ou seja, quem fazia o ajuntamento das planilhas tinha que passar planilha por planilha (e eram mais de 25 analistas por turno), linha a linha, coluna por coluna e tentar achar um denominador comum para tentar chegar a alguma conclusão.

Pensei comigo se um programa de computador não poderia resolver o problema. Mas, eu ainda era um aprendiz de programador, sabia alguma coisa de Pascal, C, Cobol, SQL e estava começando a ver alguma coisa de Delphi, não tinha certeza se tinha capacidade de resolver aquela treta.

Motivado pela Lei do Mínimo Esforço, comecei a rascunhar uma tela no Delphi, só com os campos, sem funcionalidade alguma. Depois apresentei a ideia, gostaram e me pediram para seguir em frente. Algum tempo depois tinha um sistema simples, com campos de seleção, para evitar que cada um digitasse o que quisesse, uma interface fácil de navegar, que ocupasse o menor espaço da tela possível e que no fim gerasse uma planilha com todos os registros do dia _ porque eu ainda não sabia mexer com banco de dados interbase do Delphi.

Foi minha primeira experiência bem sucedida com programação. E digo: ver o sistema funcionando, por mais precário que fosse, e as pessoas dizendo que a vida delas tinha sido e muito facilitada, fazia cócegas no ego. E digo mais, faz até hoje.

Claro que não existem ganhos sem perdas.

O programador vai ter que lidar com clientes e usuários que não sabem o que querem, ou querem algo que não precisam, ou algo que poderia ser resolvido de outro jeito mais simples _ mas que eles não conseguem entender que é mais simples.

Vai ter que lidar com designers sonhadores, que veem em seus jobs suas obras de arte, mas que não tem a mínima preocupação com uma vírgula do código, e que vão querer que o site / sistema fique tal qual seus arquivos de photoshop, além de todas as demais preocupações de layout e usabilidade.  

Não entenda isso como reclamação, é da rotina. Até porque, os usuários vão reclamar da arrogância do programador e os designers vão reclamar de sua falta de preocupação estética, e arrogância. A questão é saber lidar da melhor forma possível com cada situação, traçando limites para si _ porque um pouco de amor próprio nunca é de menos.

Seus companheiros de trabalho e familiares por um bom tempo não vão entender o que você faz, e provavelmente vão dizer que você só fica no computador jogando ou vendo séries, ou pior, vão pedir para você formatar o computador deles, porque afinal, para elas é tudo a mesma coisa. As pessoas não vão entender seu cansaço, porque não sabem o quanto é necessário pensar para resolver problemas. Não vão entender seus lapsos como socos na mesa e xingamentos em momentos aleatórios.

Você vai questionar sua capacidade inúmeras vezes. Vai passar horas tentando resolver um problema, e só vai resolvê-lo quando sentar a bunda no banco do ônibus, ou quando estiver na mesa do bar, ou segundos antes de dormir, ou segundos depois de acordar _ e acredite, raramente, até em sonhos.

Programador com a mente cansada não consegue nem fazer um IF, portanto, se um problema que parece ser insolúvel surgir, quando começar a ficar irritado, pare, vai dar uma volta, vai se distrair, joga um game, pega um caderno e caneta e fica rabiscando, toma uma água, um café, ou uma cerveja... o importante é relaxar e tentar de novo depois.

Tanto sofrimento vale a pena?

Só posso falar por mim, então diria que eu só trocaria o que faço pelos meus grandes sonhos de trabalhar com filosofia ou história, então diria que vale a pena.

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2 Comentários

  1. Rindo com esse texto. Talvez não tenha te falado, mas trabalhei um período num lugar, 8 meses, e exerci a função de programar, e é exatamente isso que descreveu, kkkkk nos mínimos detalhes, kkkk e a partir daí, tive a certeza que programar não é pra mim, sei sim, claro que, minimo, perto de programadores com mais experiencias, mas sei. ja saí da faculdade com a duvida se queria mesmo isso, mas depois da experiencia que tive, fortaleceu. gostei do texto :)

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    1. Realmente não é para qualquer um, mas hoje em dia está bem mais fácil aprender. As ferramentas e inúmeros tutoriais tem ajudado bastante (e para quem sabe inglês mais ainda).

      Obrigado pelo comentário Andressa =D

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