Platão e a Oligarquia


No livro VIII da República de Platão (sim, esse jantar é bem longo mesmo), Sócrates apresenta quatro formas de governo e busca encontrar qual delas é a mais injusta, e opô-la a mais justa. Lembrando que a forma de governo mais justa para ele é a Aristocracia, que podemos chamar de governo dos bons, onde cada pessoa executa as atividades que possui habilidade para executar.

As formas de governo que ele apresenta são: Timocracia (governo da honra), oligarquia (governos dos ricos), democracia (governo do povo) e a tirania (governo de um único líder).

Ele analisa a passagem de um governo aristocrático para um timocrático, que em seguida passaria para um oligárquico, que passaria para um democrático, e que finalmente passaria para um tirânico.

Não falarei de todos, mas vou focar nestas três últimas formas de governo: oligarquia, democracia e tirania.

Oligarquia

A oligarquia é um governo onde os ricos mandam, e os pobres não participam do poder (!). O maior valor de uma oligarquia é a RIQUEZA, portanto, os homens ricos serão honrados e os virtuosos serão menos valorizados. O cumprimento da lei se dá pelas armas, ou pela intimidação.

Sócrates dirá que o problema da oligarquia começa em seu princípio, pois, se o critério para se governar é a riqueza, e não a capacidade, o que acontece se estes governantes forem incompetentes?

Na aristocracia, a cidade é una, pois todos vivem realizados em suas funções. A oligarquia torna a cidade dividida em duas: a dos pobres e a dos ricos, que estarão sempre em constante disputa, conspirando uns contra os outros [Como numa luta de classes. Olha o Sócrates, que Marxista...]

Ele apontará que na oligarquia, as pessoas não necessariamente farão as atividades que possuem talento para fazer, e poderão fazer múltiplas atividades. E podem assim acabar com a possibilidade de se especializarem e melhorarem,

Outro grave problema é que as pessoas têm a liberdade de se desfazer dos seus próprios bens e de adquirir os bens dos outros, e muitas delas poderão acabar sem bens, e sem ter função alguma na cidade, tornando-se pobres e indigentes.

Ele acrescenta que a desordem neste tipo de governo é inevitável, pois se não, uns não seriam excessivamente ricos e outros não estariam na mais completa miséria.
"Fica claro então, que em toda a cidade onde vires pobres se esconderão também ladrões, salteadores de templos e artesãos de todos os crimes dessa espécie". 
Há mais de 2300 anos, este filósofo associa com simplicidade a criminalidade com a desigualidade social, algo óbvio e observável, e que ainda assim, tantos hoje em dia se negam a enxergar.

E qual o resultado desse tipo de governo?

A exploração e acumulação dos ricos se torna insuportável, fazendo com que os mais pobres (que são maioria) reajam e DERRUBEM os oligarcas do poder,
"eliminam uns, expulsam outros e dividem por igual com os que ficam o governo e os cargos públicos".

O oligarca

Nas suas quatros análises sobre os governos, Sócrates também analisa que tipo de indivíduo será aquele que se parece com a forma de governo. Neste caso, ele faz uma análise não apenas da oligarquia, mas do homem oligárquico.

Ele diz que o oligarca é avarento [mão de vaca, pão duro, sovina] ambicioso, e mais:
"É um indivíduo sórdido, que faz dinheiro de tudo e só pensa em acumular. É, por fim, um desses homens que a multidão ovaciona (...) Tenho para mim que esse homem não pensou muito em instruir-se".
A justificativa que ele dá para a falta de instrução, é que os desejos do oligarca não são guiados pela razão, pois são desejos rasos e superficiais [tipo alguém que compra uma privada de ouro, ou paga R$ 2.500,00 num par de sapatos ou R$ 20.000,00 numa bolsa].

Sócrates também dirá que o oligarca é dividido em dois, como a cidade. Ele terá uma aparência de justo, e age com uma espécie de violência sensata, preferindo vigiar seus adversários e evitando o conflito direto por medo de perder o que tem [resumindo: um covarde].

[Eu poderia adicionar a análise de nosso filósofo: o oligarca é dividido em dois pois ao mesmo tempo que é rico financeiramente, é pobre de espírito].

Reflexão

Notícia de 2016: O 1% mais rico detém 27% de toda a renda no Brasil. Os 10% mais ricos detém da metade até 2/3 da riqueza. Cabe aqui a pergunta: Quanto de democracia e quanto de oligarquia temos por aqui?


Carta Capital - A concentração de renda é maior do que se imaginava

Income Concentration in a Context of Late Development: An Investigation of Top Incomes in Brazil using Tax Records, 1933–2013

G1 - Concentração de renda cresce e brasileiros mais ricos superam 74 mil


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